A chamada temporada de outono se desenrola sob a influência de fatores que vão desde a base elevada de comparação – um 2021 “fora da curva” – até o aumento da área cultivada com trigo na safra de inverno. Neste momento, os negócios têm se concentrado em feiras e eventos, com a comercialização direta nas propriedades tendo ocorrido mais cedo, observa Enio Dias Santos, da EDS Remates, de Caçapava do Sul.
A cria seguirá valorizada, mas dois componentes alteraram a realidade vivida na temporada do ano passado, avalia Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS. O primeiro foi a estiagem, “que prejudicou a pecuária e forçou a venda antecipada de terneiros”:
— E muitos compradores de terneiros que vêm de áreas agrícolas estão descapitalizados — acrescenta Barcellos.
Outro ponto a ser considerado é aumento do número de terneiros – no ano passado foram 320 mil a mais do que em 2020 e, neste ano, estima-se alta de 20% nos nascimento. Isso em um cenário em que a demanda está menor, pontua Ivan Faria, presidente da Comissão de Relacionamento com o Mercado do Instituto Desenvolve Pecuária:
— Estamos sem exportação (de gado em pé) em razão da variação cambial. E os Estados do Brasil Central também não estão comprando.
A opção pelo cultivo de trigo – que está valorizado– no lugar dos pastagens de inverno é outro item que pode ter efeitos sobre a procura na temporada de outono.
Com o cenário que está posto a projeção dos especialistas é de que não se repita 2021, quando a faixa de preço do quilo do terneiro chegou a estar 40% acima do valor do boi gordo. Neste ano, deve ficar dentro do comportamento “normal” do mercado, entre 15% e 20% a mais em igual relação.
— Remunera o produtor de maneira razoável e permite ao confinador uma margem mais ou menos adequada ao investimento. A grande insegurança é o custo para o terminador (produtor que faz a engorda do animal para o abate) — estima Dias Santos.