Até quando o Brasil consegue segurar a produção agrícola com o estoque de fertilizantes que tem “em casa”? A valiosa pergunta, feita repetidas vezes diante do contexto atual, não tem resposta consensual, pelo menos neste momento. Com 104 associadas, incluindo gigantes do segmento, a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) emitiu ontem nota. No documento aponta uma quantidade de mercadoria suficiente para atender a demanda por um período de três meses, segundo agentes de mercado. Reforça, ainda que o volume é 25% superior ao de igual período do ano passado.
A perspectiva se contrapõe à feita pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que falou, em entrevista à rede CNN, em produto suficiente para dar conta da necessidade de produtores até outubro.
Há uma certeza, no entanto, em relação ao tema. É sobre a elevação de preços do insumo, já verificada na prática. Coordenador da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Hamilton Jardim relata que, na última semana, a ureia ficou 15% mais cara. Pelo menos esse foi o percentual que ele verificou ao buscar produto para a lavoura que irá cultivar na safra de inverno.
– Acredito que, para a safra de trigo, o grande impacto será o do preço, não o da falta do produto (fertilizante). Quanto vai se pagar é o problema – diz.
O mesmo, no entanto, não pode ser dito com relação ao plantio de grãos de verão do ciclo 2022/2023. Há uma incerteza quanto ao abastecimento até lá, a depender de uma série de fatores relacionados ao conflito Rússia-Ucrânia. Fora as questões de acesso ao crédito, em razão dos prejuízos impostos ao produtor gaúcho em razão da estiagem.
– Há dois insumos básicos (para a produção): água no verão, e o adubo, que traz a fertilidade e maximiza a produtividade. Podemos, eventualmente, plantar sem fertilizante, mas sabemos que a produtividade ficará comprometida – alerta Jardim.
Superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli explica que a quantidade de adubo a ser utilizada é definida a partir de um processo que começa com a análise de fertilidade do solo. Com essa informação e com o cálculo da produtividade desejada, verifica-se que nutrientes (e em que quantidade) são necessárias para alcançar esse rendimento.