O dragão da inflação, que tem tirado o sono dos consumidores, também atormenta produtores do Rio Grande do Sul. E assusta principalmente pelo tamanho: no acumulado em 12 meses, os custos de produção chegam a 35,25% – no mesmo período, o IPCA acumula 10,25%. É o que aponta o levantamento feito mensalmente pela Federação da Agricultura (Farsul). Pelo quarto mês consecutivo, o percentual bate recorde da série histórica, iniciada em 2010.
O motor da aceleração expressiva tem sido a escassez de insumos agrícolas (fertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidas, outros químicos, e sementes), que se combina à variação cambial, com novo registro de desvalorização do real frente ao dólar, explica a economista Danielle Guimarães:
– Esses insumos são a maior parte da despesa, representam 60% do custo operacional total, no caso das lavouras.
Para completar, há ainda o reajuste dos combustíveis. Com o detalhe de que os dados agora divulgados referem-se a setembro. Ou seja, ainda não contemplam a nova alta.
– A safra 21/22 está sendo plantada com custos altos e deve ser colida com preços estagnados. Em bons patamares, mas estagnados. É preciso ter cuidado na hora de fazer investimentos – reforça Danielle, sobre o alerta que já vinha sendo feito pela entidade.
No atual cenário, os valores pagos ao produtor se mantêm positivos, embora em setembro tenha havido deflação. No acumulado de 12 meses, o índice de preços recebidos chega a 12,83%. No início de 2021, em janeiro, era 85,11%.
Em setembro um dos itens que influenciou no recuo dos preços recebidos foi o valor do boi, que teve queda. Usualmente, o mês registra diminuição nas cotações em razão da saída da maior oferta, com a saída do gado da pastagem de inverno.
– O consumo interno está menor. É um movimento que preocupa por causa da ociosidade dos frigoríficos – acrescenta a economista.
Ainda não aparece nesse boletim o efeito da suspensão das exportações para a China – o RS tem três unidades da Marfrig habilitadas a embarques para o pais asiático.
Na busca pelo equilíbrio da balança de gastos e receita, a orientação é que o produtor faça caixa. Despesas e preços não podem ser controlados, mas o capital de giro dá fôlego para buscar o melhor momento da compra e venda.