Puxada por um cenário singular, em que a variação cambial dá a direção, a valorização de produtos agrícolas soma em 2020 o maior percentual em 10 anos. É o que aponta levantamento da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) que mede a inflação do agronegócio. Levando em conta o acumulado no ano, a alta é de 70,92%. No período de 12 meses, sobe para 78,84%, superando, inclusive, o aumento registrado em 2012, quando o Rio Grande do Sul havia registrado a última quebra de safra por falta de chuva.
— Além da estiagem, que reduziu a oferta, tivemos em 2020 outros fatores que contribuíram. Com a incerteza gerada pela pandemia, houve um desequilíbrio cambial. E isso acabou contribuindo para os preços das commodities. Ao mesmo tempo, deixou os produtos brasileiros mais competitivos no mercado externo — explica Danielle Guimarães, economista da Farsul.
Se externamente o apetite era grande, dentro de casa, também. A economista acrescenta que as pessoas beneficiadas com o auxílio emergencial destinam boa parte da renda para a compra de alimentos. E isso reforçou a demanda.
Soja, arroz, milho, trigo e gado alcançaram patamares históricos nas cotações em reais. A ressalva, no caso do Rio Grande do Sul, é de que, apesar da “tempestade perfeita”, o aproveitamento integral ficou comprometido pela falta de produto.
— Não adianta o preço estar super valorizado e não ter produto, já ter comercializado tudo — pondera Danielle.
Outro ponto de atenção vem dos dados referentes aos custos de produção. O índice que mede esse item vem acelerando porque a mesma variação cambial que valoriza os preços em reais também onera a compra de insumos. Em 12 meses, o Índice de Inflação de Custos de Produção (IICP) tem alta de 7,67%.
— Está aumentando mais rápido do que os preços médios da economia, principalmente porque parte dos insumos são importados — reforça a economista.
A recuperação dos preços do petróleo é outro fator que ajuda a deixar os gastos mais salgados. É um cenário que exige ainda mais atenção e planejamento do produtor.