Da campanha gaúcha ao agreste pernambucano, os climas e sabores se diferem, mas o gosto pelo vinho se mantém. Para debater sobre o desempenho da safra de uva deste ano pelo país, a Associação Brasileira de Enologia (ABE) realiza na próxima quinta-feira (29), às 20 horas, o fórum Direto do Vinhedo, evento gratuito que ocorre pelo canal da ABE no YouTube. Qualquer pessoa interessada no mundo da uva e do vinho pode participar.
O enólogo André Gasperin, presidente da ABE, será o mediador. Aumentar o volume e manter a qualidade é o que avalia como o desafio desta safra.
Além de Gasperin, a coluna conversou com os oito especialistas convidados para o fórum e pediu para que descrevessem a safra de 2021 nas regiões de onde falam. Confira os relatos.
O que há de diferente
Na serra gaúcha, Dirceu Scottá, enólogo da Dal Pizzol Vinhos e diretor da ABE, destaca a quantidade e a qualidade da produção para vinhos tranquilos (sem gás carbônico):
— Não existe uma safra igual à outra, todas trazem as suas particularidades. Podemos nomear a safra 2021 como surpreendente. Por seu volume, que superou muito as previsões iniciais, e pela qualidade e harmonia dos vinhos elaborados. Vinhos intensos, bom corpo, volume e ao mesmo tempo agradáveis, equilibrados, com frescor e vivacidade.
Sobre as frutas destinadas a espumantes na região, Carlos Abarzúa, enólogo e diretor da vinícola Geisse, observa:
— Em meio a tantas dificuldades, como seca do ano anterior, pandemia e geadas tardias, conseguimos extrair o máximo de qualidade, equilíbrio e elegância.
Já sobre a Campanha e a Serra do Sudeste, Silvano Michelon, tecnólogo em viticultura e enologia que atua principalmente na região, resume:
— Boa quantidade, com ótima qualidade num exuberante terroir (característica fruto do clima, relevo, solo e variedade).
Ainda sobre a Campanha, Gabriela Pötter, diretora técnica da vinícola Guatambu, complementa:
— Pensando em um média de toda a região, que é bastante extensa e com variações de microclimas, a safra 2021 foi diferente de todos os anos, com clima que oportunizou algumas uvas se revelarem em grandes vinhos, conforme seu ciclo e o período de seca extrema ou umidade que coincidiu.
Enfrentando o clima
— Foi uma safra desafiadora e, ao mesmo tempo, de qualidade surpreendente — aponta Átila Zavarise, enólogo consultor que atua principalmente na serra catarinense.
Na região, o desafio veio das condições climáticas, que exigiram um manejo mais intenso dos produtores no final de janeiro, por conta das chuvas.
Na expectativa
Em Minas Gerais e em São Paulo, Isabela Peregrino, enóloga da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), conta que a principal época de colheita é o inverno. A projeção é positiva:
— Eu descreveria como sendo uma safra promissora em termos de qualidade e quantidade, pois os parreirais estão com ótima carga e as condições climáticas desta pré-safra estão indo muito bem, com a estiagem já começando, temperaturas noturnas amenas e dias de bastante sol.
Em tempos distintos
O enólogo consultor Marcos Vian explica que, no Paraná, a colheita ocorreu no início do ano. Em Goiás e no Distrito Federal, por outro lado, o auge é no inverno.
— Depois de muito tempo adormecida, a vitivinicultura do Paraná viveu em 2021 um momento de revitalização e incentivo ao surgimento de novos vinhedos com ajuda do Programa da Revitalização da Viticultura do Paraná e da consolidação da Associação dos Vinicultores do Estado. Das mais novas e promissoras fronteiras vitivinícolas do Brasil, o cerrado do Distrito Federal e Goiás vive um momento de grande entusiasmo e implantação de novos vinhedos, com muita expectativa para a próxima colheita.
O típico e o novo
No Nordeste, o Vale do São Francisco tem como característica de destaque a possibilidade de colheita o ano inteiro. No agreste pernambucano, as uvas são colhidas, principalmente, entre janeiro e fevereiro. E na chapada diamantina na Bahia, o processo se inicia a partir de maio, pontua Ana Paula Barros, enóloga e professora do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.
— A safra 2021 no Nordeste promete vinhos genuínos com características peculiares que consolidam o Vale do São Francisco como distinta região produtora de vinhos tropicais, trazendo a tipicidade que este território carrega. Além disso, revelará a qualidade de vinhos dos novos terroirs nordestinos, como a Chapada Diamantina e o agreste pernambucano, nos brindando com todo potencial destas jovens regiões.
*Colaborou Isadora Garcia