O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A pandemia de coronavírus retirou uma das principais fontes de receita das pequenas agroindústrias gaúchas: a participação em feiras e exposições agropecuárias. O aumento no número de casos da doença nos últimos meses motivou o cancelamento dos principais eventos do setor primário no Rio Grande do Sul no primeiro semestre e reforça o cenário de incertezas para o restante do ano. Neste contexto, a agricultura familiar gaúcha segue em busca de alternativas para compensar a perda de faturamento.
De acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), que organiza a participação dos empreendimentos nos eventos, cinco feiras que estavam programadas não serão mais realizadas na primeira metade de 2021. Entre elas estão a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, e a Expoagro Afubra, em Rio Pardo. Os dois eventos foram cancelados oficialmente em janeiro, quando já contavam com aproximadamente 190 negócios de produtos coloniais inscritos.
— Há um impacto muito negativo para a renda das famílias, que já estavam criando expectativa pelo retorno dos eventos. Mas entendemos que a pandemia não passou — aponta Jocimar Rabaioli, assessor de política agrícola e de agroindústria da Fetag-RS.
Na última Expodireto, em 2020, o pavilhão da agricultura familiar movimentou R$ 1,17 milhão. Volume semelhante é o que poderia ser faturado pelas agroindústrias na feira deste ano. O dirigente ressalta que somente a vacinação em massa da população viabilizará a retomada do calendário de eventos com normalidade.
O modelo de drive-thru, utilizado na Expointer de 2020, só se torna viável em grandes centros urbanos, na percepção de Rabaioli. Mesmo assim, o formato tem suas restrições. No ano passado, participaram em Esteio 55 agroindústrias frente 330 em 2019, última feira antes da pandemia. O faturamento ficou em R$ 400 mil, o que representa menos de 10% dos R$ 4,5 milhões em negócios da edição anterior.
Participante assídua de feiras nos últimos anos, a Embutidos Weber, de Não-Me-Toque, ainda busca alternativas para compensar a perda de receita. Cristian Weber, um dos sócios da agroindústria, diz que o faturamento em sete dias de um evento representa quase o dobro de uma semana normal.
— O retorno da feira é maior. Se no mercado eu faço preço para revenda e vendo um produto por R$ 10, na feira eu consigo vender direto ao consumidor final por R$ 20 — exemplifica Cristian.
Para driblar a situação, a empresa passou a incluir novos produtos no portfólio e ampliou o número de pontos de revenda. Atualmente, a agroindústria distribui salames, copas, linguiças e bacon em 40 pontos da região Norte. Um ano atrás, eram 25 locais. No entanto, Cristian pondera que o faturamento ainda está abaixo do patamar verificado em anos quando ia às exposições.