O agronegócio do Rio Grande do Sul chega a este momento com um cenário nem de longe previsto no início da safra atual. A promissora colheita histórica de grãos foi minguando à medida em que a chuva se tornou escassa e mal distribuída no Estado. Primeiro, desidratou os rendimentos do milho. Depois, avançou para a cultura que é um do motores da economia gaúcha.
Com 39% da área de total de soja colhida, o quadro de perdas se consolida, porque o tempo se mantém sem a dose de umidade necessária. O último balanço da Emater falava em redução de 32% no volume. No campo e em levantamentos realizados, fala-se em metade do previsto.
A situação já era difícil e ficou ainda mais complexa com a disseminação do coronavírus no mundo todo. A paralisação de diversas atividades traz efeitos que se estenderão por longo período. A coluna conversou com especialistas do setor, que elegem quatro desafios trazidos pelo panorama atual.
EFEITO REBOTE
A corrida aos supermercados diante das restrições de circulação ampliou a demanda rapidamente. O resultado imediato é um crescimento. Economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado, Antônio da Luz alerta que esse é um ponto fora da curva, um efeito efêmero:
– Quando se compra muito hoje, se deixa de comprar amanhã. Esse resultado positivo está vinculado à antecipação de compras.
Atividades limitadas
Decretos federais e estaduais têm garantido o funcionamento das atividades consideradas essenciais. A produção de alimentos, que não pode parar por conta do ciclo, entra na lista. O problema é que a mesma avaliação nem sempre é aplicada a serviços relacionados. Uma indústria que processa alimentos depende, além da matéria-prima, de embalagens. A de máquinas, precisa de componentes, de tinta. Na colheita, são necessários reposição ou reparos de equipamentos. Essa desconexão limita o desempenho.
Exposições canceladas
Para a indústria de máquinas, o cancelamento ou o adiamento de exposições, como a Agrishow, realizada em Ribeirão Preto, preocupa. Esses espaços são vitrines em que se permite levar um número de potenciais compradores que nenhuma concessionária ou revenda conseguiria reunir.
– São instrumentos importantes de venda – reforça Claudio Bier, presidente do Simers.
Ajustes à crise
A crise virá, o que se desconhece é o tamanho. No mercado externo, taxa de câmbio e manutenção dos portos abertos serão os desafios. No interno, a calibragem da oferta. Antônio da Luz lembra que na última crise se aprendeu que existe elasticidade na demanda por alimentos,alguns mais e outros menos.
Presidente da Fecoagro-RS, Paulo Pires reforça que depois de safra com perdas, será preciso adaptação a novo cenário, com condições de competitividade, sem fardos ou juros abusivos.