O principal efeito sentido pelo agronegócio brasileiro em razão da epidemia de coronavírus até o momento é o da movimentação de cargas. Em especial nos portos da China, com o funcionamento de portos afetado pela paralisia do país asiático no ápice da disseminação da doença.
— Houve impacto na logística. Os contêineres são refrigerados. Em Xangai, o porto estava operando abaixo da capacidade. Isso fez com que ficassem além do tempo necessário, atrapalhando nossas exportações — observa Bruno Lucchi, superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Essa mesma paralisia afetou o consumo dos chineses.
A avaliação do superintendente é de que isso deverá ser compensado mais adiante, com a normalização do fluxo. E também pelo fato de que o governo local precisou se desfazer de estoques por conta da situação. A mercadoria precisará ser reposta.
De toda forma, o mês de março ainda poderá registrar efeitos nas exportações. Em fevereiro, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) apontou menor volume movimentado de carne bovina brasileira. Nos embarques de aves e de suínos, houve alta. Cargas de grãos reduziram nos dois primeiros meses — na soja, o volume foi 10,6% menor — na comparação com o ano passado.
Lucchi pondera que não se pode colocar tudo na conta do coronavírus. Outros fatores ajudam a explicar essa diferença. É o caso da maior oferta da oleaginosa no início de 2019. E do mercado interno aquecido para o milho em 2020.
A preocupação maior vem da instabilidade global, causada pela combinação de vírus com recuo nos preços de petróleo.
— A China, mesmo crescendo pouco, precisa recuperar consumo. No resto do mundo, a economia caminhando para recessão acende luz amarela — observa o superintendente.