Se no Rio Grande do Sul os impactos da estiagem ganham amplitude dia após dia com a falta de chuva, nas projeções numéricas da safra, os efeitos ainda estão diluídos. E também não aparecem nos dados da produção nacional de grãos. Tanto Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) quanto IBGE seguem apontando colheita recorde no ciclo 2019/2020. Esse descompasso tem relação, em parte, com o período de coleta de informações.
No quadro estadual, a superintendência regional da Conab identifica estragos da ausência de umidade. O levantamento foi feito no final de fevereiro. Para a soja, aponta recuo de 12% em relação à safra do ano passado, com produção estimada agora em 16,88 milhões de toneladas. No milho, a queda em igual período de comparação soma 20,5%, com 4,58 milhões de toneladas. No volume total, incluindo o trigo, o Estado deverá colher 31,8 milhões de toneladas, redução de 10,7% com volume do ciclo anterior. O resultado é o quinto no ranking da série histórica, diferentemente do que se previa no início do plantio.
E o cenário deve piorar quando começar a ser considerado o momento atual da soja que, em etapa de enchimento de grãos, tende a ampliar as perdas em razão da falta de precipitações. Os prognósticos do tempo ampliam a preocupação nas lavouras do RS.
— Hoje, o quadro mudou. Está pior. Se tinha esperança de que a chuva viesse. E não será só a perda em volume, mas também em qualidade — pontua Carlos Bestétti, assistente da superintendência da Conab no Rio Grande do Sul.
O órgão faz novo levantamento para apresentar a situação atual no Estado, mapeando prejuízos por regiões. A Central é tida como uma das que tem o maior dano na cultura da soja. Presidente da Aprosoja-RS, Décio Teixeira confirma que, além de a colheita ficar menor, o grão está disforme e leve:
— Tem muita gente querendo ver como vai se resolver essa questão. O produtor vem sendo mal remunerado. Todo mundo tinha expectativa de algum anúncio da ministra (da Agricultura, Tereza Cristina, que esteve na Expodireto).
No levantamento do IBGE, os prejuízos ainda não aparecem nos dados, com volume de soja estimado em 19,26 milhões de toneladas. Produtores estimam que o encolhimento da safra já estaria na casa de 30%, podendo chegar a 40%. O tema, aliás, foi discutido durante a Expodireto-Cotrijal por conta do balanço apresentado pela Emater.