Carrinhos lotados com itens repetidos, atendentes repondo sem parar alimentos e papel higiênico nas gôndolas e filas de clientes nos caixas. Cenas assim se repetiram pelos supermercados Rio Grande do Sul afora desde o fim de semana. Ontem às 15h30, num mercado de Porto Alegre que normalmente tem baixo movimento neste horário, mal havia vagas para estacionar. Outro dado curioso: uma rápida observação no perfil dos clientes indicava que boa parte tinha idade mais avançada, justamente o grupo mais suscetível à possibilidade de contágio que requer os maiores cuidados com o coronavírus. À sombra dos efeitos da greve dos caminhoneiros de dois anos atrás tomou conta do Estado e gerou uma sensação de pânico em clientes que correram para os supermercados. Desnecessário, no entendimento dos supermercadistas.
— Não há razão para esse comportamento. Temos todas as condições de manter os estoques para mais 40 dias, sem problema e sem indicação de que poderá faltar alguma coisa — garante o presidente da Associação Gaúcha de Supermercadistas (AGAS), Antônio Cesa Longo.
Confirmei in loco a garantia pelo presidente da Agas. Assim que as prateleiras eram esvaziadas, um repositor encostava com novo lote de alimentos como arroz, feijão, farinha, sal e açúcar. Papel higiênico, então, saía como pão quentinho no fim da tarde. É compreensível o temor da população diante da dúvida sobre o futuro no curto prazo. Na história recente, nunca houve uma doença que gerasse tamanha mudança de comportamento em tão pouco tempo como agora o coronavírus. Medidas restritivas - que tendem a ser mais rigorosas com o avanço do tempo - são necessárias e justificáveis. Mas a preocupação com falta de comida é desnecessária neste momento. Sem contar nos riscos que isso pode gerar. Ambientes lotados em que muita gente fica muito perto por muito tempo são locais adequados para uma coisa apenas: a proliferação do vírus.