Prateleiras desfalcadas nos supermercados indicam um movimento atípico nos últimos dias: funcionários já não dão conta mais de repor os produtos mais procurados, como álcool gel, papel higiênico, farinha, água, óleo de soja e massas. A confirmação do primeiro caso de coronavírus na Capital, na quarta (11) passada, aumentou a venda de produtos de limpeza e de higiene pessoal, além de alimentos básicos.
E não é só as estantes mais vazias compõem um cenário diferente do habitual. Com máscaras cirúrgicas, Alda Marina Moura, 67 anos, e José Moura, 77, circularam nos corredores de um supermercado no bairro Azenha em busca dos itens necessários para iniciarem seu isolamento em casa.
— Vamos ficar em casa o máximo que conseguirmos. Estamos muito expostos. Olha o que aconteceu na Itália. Precisamos nos precaver — afirmou a aposentada.
Ela e o marido também acionaram familiares para encontrar álcool gel. A encomenda foi feita pela internet para garantir o estoque durante o isolamento:
— Em Porto Alegre, não conseguimos mais achar.
A realidade é comum em diversos mercados e farmácias, que também já enfrentam falta de máscaras cirúrgicas. Em uma loja no bairro Menino Deus, por exemplo, o último carregamento com álcool gel chegou no sábado, mas, em cerca de meia hora, as 80 unidades foram vendidas.
— As pessoas estão alucinadas, levando 10, 15 garrafinhas — relatou Elen, vendedora de um supermercado na Azenha.
A preocupação com o coronavírus, no entanto, não fica restrita apenas às compras de mantimentos básicos. O jornalista e documentarista Luiz Fonseca, de 65 anos, sugeriu que os funcionários de um estabelecimento higienizassem com álcool a barra utilizada para conduzir os carrinhos.
— Dei este conselho, para que desinfetassem com mais frequência. Isto é um veículo transmissor da doença. O mundo parou, e o Brasil está nesta farra. Acho que temos que investir em campanha permanente para que as pessoas não entrem em pânico — advertiu Fonseca.
Pânico, aliás, é uma palavra frequentemente presente nas falas das pessoas, quando questionadas sobre o assunto. O advogado José Diogo Cirilo da Silva, de 74 anos, entrou em um mercado da Cidade Baixa com o objetivo de comprar apenas álcool gel. Ele estava em busca do produto há alguns dias, junto com a esposa. Os dois buscaram em cinco lugares. Só no sexto o advogado encontrou — e aproveitou para garantir três unidades.
— Estamos mantendo nossa operação normal, mas trabalho com mais três pessoas e estou levando para o nosso escritório. De mudança nos hábitos, só o cumprimento com o cotovelo por enquanto — resumiu o advogado.
Não há chance de fechamento dos supermercados, diz Agas
Embora a Associação Gaúcha de Supermercados projete que 20% da população no RS tenha adiantado suas compras no último fim de semana para estocar alguns itens, não há chance de desabastecimento e nem de fechamento dos supermercados — já que o setor é considerado uma atividade econômica essencial. Segundo o presidente da entidade, Antônio Cesa Longo, não é preciso se preocupar, por exemplo, com a falta de papel higiênico, um dos produtos mais procurados nos últimos dias.
— Na Europa, o papel higiênico é importado da China. O nosso vem daqui, de Guaíba, por exemplo. A produção é nacional. Não existe este risco (de acabar). Tem diversos produtos similares que não vão causar crise. A venda de água foi muito alta neste fim de semana. Dobrou, mas tem muito a ver com o calor. Nós queremos tranquilizar a população: não há risco de desabastecimento — esclareceu Longo, em entrevista ao Gaúcha Atualidade.
O mesmo se aplica ao álcool gel. Longo destaca que os locais mais buscados para a compra do produto são as farmácias, mas reforça que os supermercados estão preparados para reporem os estoques nos próximos dias.
— Os supermercados tinham uma venda quase inexistente de álcool gel e, de repente, houve uma grande procura. Tivemos uma boa venda de produtos de higiene e limpeza, mas está bem longe de faltar. O que pode acontecer é uma dificuldade em alguns setores em virtude da ausência de funcionários em seu quadro por terem contraído alguma gripe ou resfriado, ou terem criança na família — disse.
A Agas também orientou os estabelecimentos a intensificarem a limpeza dos objetos de uso comum, como carrinhos, cestinhas e máquinas de cartão de crédito:
— Pedimos para aumentarem o número de higienização nos carrinhos e cestinhas, sempre à frente do cliente. O correto também é, antes de iniciar o check-out, que se higienize o caixa e a máquina do cartão de crédito.
A Associação também afirma que ainda não tem os números consolidados sobre as vendas nesta segunda (16), mas deverá atualizar na terça-feira (17).