Na prática, a decisão anunciada nesta terça-feira (3) pela Secretaria da Agricultura, de suspender temporariamente a aplicação do 2,4-D no Rio Grande do Sul, terá efeito restrito, para não dizer nulo. Primeiro, porque está condicionada à manutenção da greve dos servidores estaduais, que pode acabar a qualquer momento. Segundo, porque restam poucas áreas ainda com necessidade de uso do herbicida. O plantio da soja somava 72% do total previsto na última semana. Como é preciso intervalo de no mínimo 10 dias entre a pulverização e a semeadura, a estimativa é de que reste cerca de 10% de área com necessidade de uso.
Do ponto de vista estatístico, em relação ao número de casos de deriva, não deve reverter o panorama. De 143 amostras 92,3%, ou seja, 132 tiveram laudo positivo para a presença do produto. Justamente porque o grosso do herbicida 2,4-D já foi aplicado. Para produtores de culturas afetadas pelo problema, a medida também foi adotada pela razão errada. Foi a greve o fator preponderante, quando deveria ter sido o elevado número de casos, opina Valter Pötter, da Estância Guatambu, integrante da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha. E, de fato, a recomendação e a suspensão vieram em razão da paralisação.
— Os resultados indicam fragilidade do sistema, porque, mesmo com todas as normativas, houve casos de deriva — afirma Pötter.
As regras foram criadas a partir do debate iniciado após a confirmação de casos no ano passado e valiam para os 24 municípios com laudos positivos. Desses, 16 voltaram a ter registro do problema. Entre eles está Jaguari, que concentra 27 registros.
Responsável por inquérito civil, o promotor Alexandre Saltz diz que suspensão durante a greve era a solução possível, neste momento, mesmo que tenha alcance limitado no tempo.
— Temos de trabalhar bem esses números para fazer fechamento do resultado das instruções normativas, não apenas do ponto de vista das confirmações. Antes, as coisas aconteciam e o Estado não estava preparado para atender.
Os próximos passos incluem definir estratégia de fiscalização e, após o fim da greve, incrementar processo de apuração para punir responsáveis — neste momento há um caso com pedido de instauração de inquérito, na Campanha.
As ferramentas adotadas até o momento não precisam ser dispensadas. É importante treinar, preparar e, sobretudo, fiscalizar. Mas diante do quadro apresentado, é preciso repensar a forma de atacar o problema, visto que o modelo atual não conseguiu conter a deriva.
Municípios com laudos positivos
Bagé, Bom Jesus, Cacequi, Cachoeira do Sul, Candiota, Caseiros, Dilermando de Aguiar, Dom Pedrito, Entre Ijuís, Hulha Negra, Itaqui, Ibiaçá, Jaguari, Jari, Lavras do Sul, Maçambará, Mata, Minas do Leão, Nova Esperança do Sul, Paulo Bento, Pirapó, Pinhal da Serra, Pinheiro Machado, Piratini, Protásio Alves, Rodeio Bonito, Ronda Alta, Santa Maria, Santana do Livramento, Santiago, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Borja, São João do Polêsine, São Sepé, Sarandi, Silveira Martins, Sobradinho, Toropi, Vacaria e Viadutos.
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