Das 76 análises concluídas até agora em plantas com suspeita de deriva do herbicida 2,4-D no Rio Grande do Sul, 100% tiveram laudo positivo – número superior ao do ano passado. Os resultados foram divulgados nesta segunda-feira (25) pela Secretaria Estadual da Agricultura, após ter recebido os exames feitos pelo Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ainda estão em análise outras 73 amostras coletadas em 52 propriedades rurais.
Conforme a Divisão de Serviços e Insumos Agropecuários da Secretaria da Agricultura, neste ano já houve denúncias de suspeita de deriva em 41 municípios, atingindo culturas de tomate, ameixa, couve, videira, oliveira, noz-pecã, maçã, caqui, em pastagens e cinamomo.
– A Secretaria da Agricultura tomou todas as medidas e vem desenvolvendo atividades de fiscalização constantes, com objetivo de penalizar o mau produtor, que tenha provocado a deriva – afirma o chefe da Divisão de Serviços e Insumos Agropecuários, Rafael Friedrich de Lima.
As confirmações de novas derivas no Estado ocorreram justamente no ano em que entraram em vigor regras estabelecidas pelo governo estadual após o caso ter ido parar no Ministério Público (MP). Entre as exigências, está a obrigatoriedade de cadastro dos aplicadores.
– Agora temos base pericial para responsabilizar criminalmente quem descumpriu normativas – afirma o promotor de Justiça, Alexandre Saltz, responsável pelo caso.
Diante das novas confirmações, a presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha, Clori Peruzzo, só vê dois caminhos: a suspensão do uso do produto ou o fim da diversificação na região.
– Os estragos agora foram piores do que no ano passado. É uma situação muito triste – lamenta Clori, estimando redução de 50% da safra de uva na Campanha.
Presidente da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi), José Sozo, diz que o resultado dessas primeiras análises não surpreende e comprova a alta volatilidade do produto. No entendimento de Sozo, os próximos laudos também deverão apresentar grande incidência de resultados positivos:
– Nesse ano, choveu muito. Então, acho que os próximos lotes, que foram analisados mais tarde, também chegarão perto dos 100%. No final do ciclo, imagina o cara que esperou os tais de 10 km/h. Chega na semana seguinte e ele tem de plantar. Tu acha que ele vai perder a safra?
Diretor-executivo do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Fabrício Carlotto, destaca que muitos produtores de oliveiras estão notando o problema somente recentemente - em razão do atraso na aplicação do produto.
– O número de denúncias relacionadas a oliveiras tende a aumentar. O pior é que muito difícil de saber de onde vem a deriva – afirma Carlotto.
Presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Luis Fernando Fucks afirmou que pretende analisar com mais profundidade o resultado dessas primeiras análises. Fucks quer entender os parâmetros das coletas e o motivo da deriva nesses locais.
– Vamos ter de analisar essas informações e ver o que está acontecendo. Se o pessoal não está respeitando. Se são realmente casos pontuais, em regiões de fruticultura, então, com proximidade muito grande. Tudo isso terá de ser analisado – destacou.
Além das autuações previstas em instrução normativa, que variam de R$ 2 mil a R$ 19 mil, os produtores rurais podem sofrer sanções nas esferas civil e criminal. A Secretaria da Agricultura já identificou produtores que realizaram aplicação sem assinatura da receita e aplicador cadastrado. Constatou também revendas comercializando agrotóxicos sem exigir a declaração do produtor e a certidão do aplicador, além do profissional não ter colocado na receita agronômica o termo de responsabilidade e de risco.
Em 2018, das 81 análises laboratoriais feitas em 24 municípios gaúchos, 69 deram resultado positivo para contaminação do herbicida 2,4-D em cultivos de uvas, azeitonas e maçãs nas regiões de Campanha, Fronteira Oeste, Central e Campos de Cima da Serra.
Municípios com laudos positivos até agora
Bom Jesus, Cacequi, Cachoeira do Sul, Candiota, Dilermando de Aguiar, Dom Pedrito, Ibiaçá, Jaguari, Jari, Maçambara, Mata, Minas do Leão, Pinhal da Serra, Piratini, Protásio Alves, Ronda Alta, Santana do Livramento, Santiago, Santo Ângelo, São João do Polêsine, Silveira Martins, Toropi, Viadutos.
Como denunciar
- O produtor que suspeitar de deriva de agrotóxico deve comunicar a Secretaria da Agricultura pelo telefone (51) 3288-6296, WhatsApp (51) 98412-9961 ou e-mail denunciahormonais@agricultura.rs.gov.br.
- No site agricultura.rs.gov.br, banner Denúncias 2,4-D, é possível conferir as informações que devem constar na queixa.
Entenda as regras para aplicação
O governo do Estado publicou instruções normativas para regrar o uso de agrotóxicos hormonais, como o 2,4-D, nas lavouras do Rio Grande do Sul. Nesta safra, a vigência é para os 24 municípios onde foram confirmados casos de deriva no ano passado. A partir de 2020, as exigências valerão para todo o Estado. Entenda as mudanças:
- O produtor rural e/ou aplicador devem assinar termo de conhecimento de risco e de responsabilidade para uso do produto.
- O aplicador de herbicidas hormonais deve fazer um curso específico de, no mínimo, 16 horas, para ser autorizado a usar os produtos.
- O treinamento é exigido para o cadastro de aplicadores feito na Secretaria Estadual da Agricultura.
- Após a utilização do agrotóxico, o produtor rural deve fazer o registro de aplicação e declarar à Secretaria da Agricultura.
- A venda de agrotóxicos hormonais deve ser orientada, ou seja, as revendas também poderão ser responsabilizadas pelo uso incorreto do produto.