A jornalista Joana Colussi é colaboradora da colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Aguardada com ansiedade por produtores de frutas no Rio Grande do Sul, a divulgação do resultado dos laudos das coletas feitas pela Secretaria da Agricultura em propriedades rurais com suspeita de deriva do herbicida 2,4-D ficou para os próximos dias. A grande expectativa é justificada pelo histórico de anos passados, quando prejuízos milionários foram acumulados em produção de uvas, oliveiras e maçãs. Mas o que também inquieta é o número de denúncias registradas: 99 até agora.
A situação se agrava justamente no ano em que foram estabelecidas regras para uso do produto — como curso e cadastro dos aplicadores. O que poderia então explicar a repetição do cenário de destruição?
Na opinião de produtores e técnicos que conhecem a região da Campanha como a palma da mão, o motivo é o mesmo que levou à deriva em anos anteriores: as condições climáticas típicas da Campanha, com muito vento na primavera. Levantamento feito pela estação experimental da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, mostra que em outubro deste ano apenas quatro dias tiveram ventos com menos de 10 quilômetros por hora — condição exigida para aplicação do 2,4-D.
— Foram janelas muito curtas, o que mostra que boa parte das aplicações foi feita em situação não permitida. E a média da velocidade do vento deste ano na região não é exceção, mas a regra — diz Norton Sampaio, professor de viticultura da Unipampa.
Entre as denúncias recebidas pelo Ministério Público do Estado estão justamente aplicações feitas em condições não adequadas.
— Temos fotos e vídeos flagrando a aplicação em dias com vento acima de 20 quilômetros por hora — conta Alexandre Saltz, promotor de Justiça responsável pelo caso.
Embora a presença de vento constante explique boa parte das suspeitas de deriva, a serem confirmadas pelo resultado dos laudos, não justifica os atos praticados. Ou existem condições para aplicação ou não se aplica, as regras agora são claras.
— A comprovação de mau uso do produto é crime, e assim os casos serão tratados — garante Saltz.
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