Não há o menor problema em debater o uso de produtos químicos nas lavouras. Toda discussão feita com embasamento científico é salutar e permite repensar práticas que possam estar comprometendo a sustentabilidade da produção. Porque uma substância que prejudica a saúde coletiva, por exemplo, torna a atividade insustentável.
Então, se há dúvidas sobre eventuais efeitos nocivos do glifosato, elas precisam ser esclarecidas. Mas veja bem: a Anvisa iniciou em 2008 – ou seja, há 10 anos – a reavaliação toxicológica do princípio ativo. Dez anos se passaram e ainda não há conclusão (leia mais sobre isso na reportagem principal do caderno). Então, faz bem a Justiça ao estipular um prazo para que o órgão federal finalize a tarefa – 31 de dezembro de 2018, segundo liminar concedida por magistrada federal da 7ª vara de Brasília em 3 de agosto.
Mas o momento escolhido para determinar a suspensão do registro do glifosato não poderia ser mais inadequado. Se não tivesse sido derrubada a liminar, o item não poderia, na prática, ser usado. Justamente quando os produtores se preparam para o plantio da safra de verão. E mais de 90% das lavouras de soja do Brasil, por exemplo, fazem uso do princípio ativo. Sobrariam duas alternativas: improvisar – arriscando resultados – ou entrar na ilegalidade. Nenhuma delas sustentável do ponto de vista econômico.
É por isso que a decisão tomada no último dia 3, que derrubou a liminar, foi tão celebrada pelo agronegócio.
Alternativas são bem-vindas
A glifosato-dependência não é exatamente uma escolha do produtor. As outras opções existentes no mercado são mais caras e não têm a mesma eficiência, argumentam os agricultores. Como essa é a atividade que lhes garante renda, faz sentido que busquem solução também saudável ao bolso.