No auge da safrinha de milho no Brasil, o preço do produto se mantém valorizado no mercado nacional. Além da redução da colheita do cereal, por causa de problemas climáticos no Paraná e no Centro-Oeste, uma velha tática entrou em jogo novamente. Enquanto o produtor segura o grão, as indústrias ameaçam aumentar as compras de países vizinhos.
– A importação é um corredor importante em momentos como esse. Acaba sendo uma válvula de escape às indústrias de carnes que dependem do insumo o ano todo – afirma Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Até junho, as importações de milho no país somavam 241 mil toneladas. Mas até o fim do ano, o dirigente estima que as compras externas superem os números do ano passado, quando o setor buscou 1,3 milhão de toneladas fora do país – principalmente no Paraguai.
Vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Cesario Ramalho pondera que a retenção do produto é necessária para dar um pouco de segurança ao agricultor – ainda mais no cenário atual de incerteza.
– O produtor tem o direito de escolher a hora de vender. Não deixa de ser uma estratégia para valorizar a produção. As indústrias precisam se convencer de que é melhor comprar antecipado – diz Ramalho.
Na primeira quinzena de julho, a saca de 60 quilos no atacado se aproximou dos R$ 40 em Passo Fundo – principal região produtora no Estado. No mesmo período do ano passado, o preço girava em torno de R$ 25 – alta superior a 50%, segundo dados do Cepea/USP.
Embora reconheça que esse movimento é natural, tanto do produtor reter o milho quanto da indústria buscar produto fora do país, o analista de grãos da Datagro, Flávio Roberto de França Júnior, alerta para o risco do impasse da tabela de frete atrapalhar as exportações do cereal – estimadas em 30 milhões até o fim do ano.
– Se as vendas externas não ocorrerem como o esperado, o agricultor poderá ficar com esse milho estocado, o que não é bom para ninguém – alerta o consultor.