O mercado gaúcho para venda e fabricação de automóveis foi pauta da entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, que também falou sobre a reforma tributária incluir os carros elétricos no imposto do pecado.
A retomada de vendas continuará no Rio Grande do Sul, já que junho foi puxado pelo pagamento dos seguros dos carros perdidos na enchente?
Tivemos queda de 65% nos emplacamentos em maio, mas percebemos um crescimento em junho acima da média do país. A nossa expectativa é daqui para frente apresentar um constante crescimento.
A General Motors (GM) anuncia nesta semana investimento de R$ 1 bilhão em Gravataí para fabricar um SUV (veículo esportivo de menor porte) e espera-se aporte da Toyota em Guaíba. Mais montadoras falam em manter e retomar os projetos no Rio Grande do Sul mesmo após a enchente?
Montadoras e setor de autopeças planejam investir R$ 130 bilhões no país, e boa parte será no Rio Grande do Sul. Ainda é cedo para dizer quanto, mas temos diversas fábricas aí, de máquinas, caminhões, veículos leves e autopeças. O mercado gaúcho representa muito do nosso setor. De consumo, fica entre 4% e 5%. Das autopeças, 10% do total do Brasil é produzido pela indústria do Rio Grande do Sul.
O foco será em elétricos e híbridos?
Em elétricos, será um pouco tímido. O Brasil ainda não tem demanda tão significativa. Será mais em híbridos e combustão.
Foi sugerido à reforma tributária aplicar o imposto do pecado ao carro elétrico. Qual impacto no setor?
Olha, estamos comemorando o avanço da reforma tributária, mas o imposto seletivo é um problema para o setor. Ele eleva o preço do veículo. A reforma foi concebida para haver neutralidade tributária, mas incluir automóveis no imposto seletivo é um ônus para o consumidor e a nossa indústria.
Para incluir o carro elétrico no imposto do pecado se argumentou que ele polui muito após o uso, na destinação final do veículo.
Do ponto de vista ambiental, o carro elétrico é muito eficiente e não há motivo para que esteja no imposto seletivo, assim como a biocombustíveis, como o etanol. De forma geral, não deve ter para os automóveis. Um carro usado emite 23 vezes mais (gás carbônico) do que um carro novo. O Brasil tem que se esforçar para ter carros novos, não velhos. O imposto seletivo representa um envelhecimento da frota e tem que se levar em conta a descarbonização.
Para barrar carros chineses, o governo aumentou o imposto de importação. Por que a indústria nacional não é competitiva nos eletrificados?
A infraestrutura do Brasil é precária. A China começou há 15 anos e produz 50 milhões de veículos, e o Brasil 4 milhões. Se não houver uma transição, não terá equilíbrio. A própria China elevou a sua tributação a 80% quando estava formando sua indústria. O Brasil tem a menor tributação, de 18%, enquanto a própria China pede 25%, Estados Unidos 100%, Europa 48%.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jaques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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