Gabriela Schwan, presidente da rede de hotéis Swan, que tem uma unidade em Canela, e vice-presidente do Transforma RS, conversou com a coluna para o podcast Nossa Economia, de GZH, sobre o debate que se acende em Gramado e Canela sobre preços e superoferta de leitos. Segundo ela, os preços subiram porque a demanda explodiu na pandemia, mas já estão passando por reajustes devido a queda no turismo de Natal. Ela também argumenta que há novos desafios para a região, como atrair turistas estrangeiros. A expectativa é que dados que serão disponibilizados com o Observatório de Turismo — um projeto que está envolvendo o Transforma RS — ajudem a tomar decisões estratégias para o turismo. Confira trechos da entrevista abaixo e a íntegra no final da coluna.
Qual a sua visão em relação à queda no turismo na região das Hortênsias durante o Natal e o Ano Novo, principalmente em Gramado e Canela?
Gramado tem um trabalho, de muitos anos, envolvendo a iniciativa pública e privada, que serve de exemplo para outras regiões. Percebemos uma queda na procura do Natal Luz. Olhando o histórico, na pandemia, teve restrição das viagens e a dificuldade de ir para o exterior, o que trouxe um olhar para as riquezas da nossa região. O ano de 2020 foi ruim, mas em 2021 houve uma procura muito grande. De alguma maneira, se esperou que houvesse uma continuidade para 2022, e a serra gaúcha, de janeiro a novembro, inclusive bateu recorde de visitantes. O que precisamos agora são dados de acréscimo de leitos na região.
O que se fala é que essa superoferta de leitos tende a aumentar, porque tem muitos empreendimentos sendo lançados.
Mesmo que a Serra tenha uma estruturação e um planejamento, houve um crescimento muito grande nos últimos anos, que pode colocar em risco a sustentabilidade da região. O fato de algumas pessoas estarem questionando os preços elevados, é uma questão de oferta e demanda. Com a pandemia e mais demanda, realmente os preços subiram muito. Mas há mais de 20 anos o mercado aéreo, de hotelaria, de parques, de diversão, flutuam conforme a oferta e demanda.
Se há uma redução da demanda, então há uma tendência de recuo de preços.
Na verdade, reajuste de preços já ocorreu. Tenho um empreendimento em Canela, acompanhei de perto isso. Até o início de novembro, se esperava uma demanda, e a região começou a mudar o comportamento e ver uma redução de preços. Só que, se tu chega em novembro no mercado de turismo, não consegue mais os clientes de operadoras, que vendem com vários meses de antecedência. Então há ainda uma demanda regional: 39% da demanda da Serra é do Rio Grande do Sul, sendo que 24% é da grande Porto Alegre e 15% do interior do Estado. Tem um outro agravante que foram as eleições. Há uma mudança de liderança, então as pessoas ficaram um pouco mais travadas em relação ao consumo. Percebemos isso desde a véspera das eleições.
O diretor José Justo, que integra o setor hoteleiro há muito tempo, comentou que o perfil desse público é muito suscetível a esse tipo de incerteza, porque tem conhecimento do que está acontecendo e tem receio de um impacto no dinheiro. É o que vemos também nos indicadores nacionais macroeconômicos de confiança do consumidor.
Exatamente. Com as pessoas mais conscientes, não é uma questão de ter dinheiro ou não, mas de segurar. As pessoas estão atentas para saber para qual caminho vão ir e estão mais estagnadas para o consumo. Querendo ou não, o turismo acaba sendo um supérfluo, não está na base do pilar das necessidades. Está no topo dos desejos. Agora em relação a questão dos preços, a Serra hoje tem para todos os bolsos. Se Gramado pega uma fama de caro, Canela sempre vem atrás. Se Gramado está cheio, enche Canela. Canela ainda precisa assumir um protagonismo como destino. Então a gente tem que olhar para a região como um todo.
A cidade não quer receber só o turista "bate-volta", que vai e não consome no local. Isso é complicado para movimentar a economia.
Todo turismo é bem-vindo. A gente precisa aumentar o nível de competitividade e agregar valor ao gasto médio, inclusive. Por exemplo, não vejo turistas estrangeiros em Gramado. No Transforma RS, recebemos cineastas de Hollywood interessados em fazer um filme no Rio Grande do Sul. Eles se encantaram pela Serra. A primeira coisa que pensaram era em fazer talvez um filme de Natal. As pessoas que vêm de fora se impressionam muito, mas não vê praticamente ninguém falando inglês ou espanhol. Em 2022, da demanda, 1% dos visitantes da Serra são estrangeiros. Não é nada.
Teria interesse em atrair mais estrangeiros?
Com certeza, porque a taxa cambial é favorável para eles.
E geralmente o poder aquisitivo é maior...
A metragem quadrada da serra gaúcha é uma das mais caras do Brasil. A logística para a mercadoria chegar na Serra é mais cara. Não tem como tudo ser barato e entregar a segurança e uma experiência incrível. Mas, hoje existe pra todos os bolsos.
Como faz para o turista voltar?
O principal foco do projeto de turismo que vai ser capitaneado pelo Transforma RS em parceria com o governo estadual é a questão do Observatório do Turismo. O que mais necessitamos hoje são dados. Aquilo que não medimos, não gerenciamos. Hoje ainda faltam alguns dados importantes para atuar estrategicamente. Estamos muito próximos de colocar em pé esse projeto de turismo, trazendo todos esses dados.
O que nós temos de novidades sobre a rede Swan?
Estamos finalizando mais um empreendimento em Portugal. Ele já deve estar pronto para a próxima temporada do verão. Estamos em tratativas ainda com alguns empreendimentos também para a serra gaúcha.
Região das Hortênsias?
Sim. Não adianta. É a nossa riqueza, é o nosso grande potencial, o que a gente tem de diferencial no Estado. Ainda tem espaço para crescer, mas como eu te disse: precisa ser algo bem trabalhado.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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