Os R$ 20 bilhões que passaram “despercebidos” no caixa da Americanas farão estragos ainda difíceis de dimensionar. O comunicado informando o rombo e a saída dos executivos já sinalizava a bronca na qual a gigante do varejo se meteu. A conferência para alguns investidores nesta manhã também deixou muito a ser esclarecido. Inconsistências das contas com fornecedores não estavam refletidas da forma correta no balanço por anos, deixando a companhia como devedora dessa quantidade exorbitante para bancos. Em vez de ser considerado despesa, o juro chega a ser diminuído.
Independentemente de que linha ou aba errada do Excel deixou de ser preenchida, profissionais da área contábil consultados pela coluna entendem que essa despesa bilionária existe e terá de ser paga. Porém, o montante supera patrimônio e valor da empresa. Quem vai emprestar dinheiro depois desse episódio? Os bancos para os quais ela está devendo essa soma nada irrisória? Qual será o juro de uma operação de crédito a ela, já que a taxa é calculada pelo risco? Essa desconfiança não se espalhará pelo setor de varejo? Como a PwC não viu? E as outras empresas que são auditadas pela consultoria com atuação mundial?
A confiança está extremamente abalada. A Americanas tem capital aberto e suas ações entraram em leilão na bolsa de valores, com queda de 75%. Os acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles disseram que participarão da solução, como forma de amenizar o baque com a força dos seus nomes no mercado empresarial e a postura do “pegaremos junto”. Porém, já avisam que a capitalização tem que levar a “resultados consistentes”. Uma crise de confiança abala profundamente o negócio, por mais que seja difícil acreditar que a Americanas quebre.
Vindo para a “economia real”, como afetará a operação física? De acordo com os números de 2021, são mais de 1,8 mil lojas pelo país. Só no Rio Grande do Sul, a Americanas tem 65 unidades e um centro de distribuição. O patrimônio vai sentir. Qual será a confiança dos fornecedores das mercadorias? Por fim, há os empregos. Presidente do Sindicato dos Comerciários de Porto Alegre, Nilton Neco diz que o rombo ainda está no papel, mas já gera apreensão no setor. Na Capital, conta com cerca de 290 funcionários.
Quanto mais tempo as perguntas levam para serem respondidas, mais dúvidas surgem.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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