O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
O Rio Grande do Sul fechou 2022 com 21 projetos de parques de geração de energia eólica no mar em licenciamento no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), de acordo com levantamento de dezembro. É mais do que o dobro do início do ano, quando 10 projetos estavam em análise. A modalidade, conhecida como "offshore", atrai grandes investimentos e já tem se tornado uma realidade fora do país, principalmente na Europa. Nela, os grandes cataventos que geram energia são colocados fora da costa, em alto-mar, onde costuma haver maior incidência de vento, além de também permitir equipamentos maiores.
A coluna mapeou de onde são os investidores interessados em colocar esses parques em alto-mar aqui no Rio Grande do Sul. Na lista, há empresas e fundos de investimentos de países como o Japão, a Espanha, a Dinamarca, a França, a Noruega e o Reino Unido. Há também negócios locais.
No caso do investimento de origem japonesa, trata-se do braço brasileiro da empresa Shizen Energy. Ela tem quatro projetos em licenciamento no Rio Grande do Sul. Todos foram protocolados no mesmo dia, em julho. Somados, são 800 aerogeradores com potência máxima total de 12 mil megawatts. Pelo mapa ao qual a coluna teve acesso, os projetos ficariam entre o início do Litoral Sul e a região de Mostardas.
Outra empresa com investimentos planejados é a gigante do petróleo Shell, que tem origem no Reino Unido, mas atuação global. O projeto dela no mar gaúcho prevê a instalação de 215 aerogeradores próximos a Rio Grande. Em nota enviada à coluna, a companhia disse que o Brasil é uma área prioritária em energia de fontes renováveis, e que ainda longos estudos definirão o futuro dos parques eólicos.
"No momento, a Shell aguarda a definição do Termo de Referência (TR) com as orientações para as análises socioambientais, que serão desenvolvidas para cada zona logo após a disponibilização do TR pelo órgão ambiental. Além do longo período dos estudos, cada projeto também deverá passar por um processo de audiência pública e por avaliação técnica do IBAMA. Vale dizer que as áreas serão estudadas com mais aprofundamento, carecendo de avaliações ambientais, de engenharia e análises técnicas que confirmarão ou não a possibilidade de se tornarem futuros parques eólicos", disse em nota.
Quem também está com planos por aqui é a gigante europeia Ocean Winds, uma joint-venture da francesa Engie com a portuguesa EDP Energias Renováveis, que já tem projetos nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Conforme a coluna noticiou no ano passado, os planos dela, que envolvem dois parques eólicos no Rio Grande do Sul, atingiram investimento de R$ 120 bilhões só no Estado.
Veja a lista com as empresas que apresentaram propostas de projetos offshore no Rio Grande do Sul. Algumas, como a Ventos do Atlântico e a SPE Bravo Vento, têm mais de um processo de licenciamento em andamento.
- Neoenergias Renováveis (controlada pelo grupo espanhol Iberdrola).
- Ventos do Atlântico (ligada a Ocean Winds, joint-venture da francesa Engie com a portuguesa EDP Energias Renováveis)
- Bosford Participações (ligada a um fundo dinamarquês)
- SPE Bravo Vento (associada a empresa Hafentec Projetos Portuários)
- Geradora Eólica Brigadeiro III, IV e V (através de uma joint-venture entre o grupo Servetec e a australiana Marcquarie)
- Bluefloat Energy do Brasil (ligada pelo grupo espanhol Bluefloat Energy)
- Totalenergys Petroleo e Gás Brasil (sede na França)
- Shell Brasil Petróleo (sede no Reino Unido)
- Equinor Brasil Energia (sede na Noruega)
- Shizen Energia do Brasil (sede no Japão)
Os dados foram atualizados pelo Ibama no dia 5 de dezembro. Com a atualização, o Rio Grande do Sul lidera, com o Ceará, a lista dos Estados com o maior número de projetos em fase de licenciamento. Na sequência vem Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, com nove projetos cada.
É preciso levar em consideração, porém, que não há garantia que todos sejam licenciados e nem que, após licenciados, saiam do papel. Há, inclusive, quatro propostas que estão com aerogeradores sobrepostos ou a menos de 2 mil metros de outros projetados em empreendimentos com processos mais antigos. Todavia, o alto número de propostas demostra o interesse do setor na diversificação de energia no Estado.
Ainda há muita água para andar sobre essa ponte. Atualmente, essa modalidade está em fase de regulação no Brasil. O entendimento da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) é que, em dez anos, possivelmente, já teremos eólicas operando no mar brasileiro.
"É fundamental considerar que num setor que está dando seus primeiros passos a segurança da regulação é ainda mais crucial, para que tanto empresas como sociedade e governo saibam quais são os critérios técnicos, exigências, obrigatoriedades de estudos e os órgãos que responderão e serão responsáveis por analisar, aprovar e formalizar o avanço de cada etapa dos projetos, que possuem complexidade maior do que os de eólica onshore", disse em nota enviada à coluna.
Energia eólica na Lagoa dos Patos
Além da energia no mar, o Governo do Estado também está com um projeto para instalar aerogeradores na Lagoa dos Patos. No ano passado, já foram realizadas consultas públicas e elaboração de edital. A instalação de aerogeradores nessas áreas é um pleito do setor. Para avançar, porém, é preciso alterar o zoneamento ambiental do Estado.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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