Vamos lá, de novo. Ao olharmos uma tabela, precisamos ver o que os dados nos dizem. Buscar nela números que sustentem o que queremos dizer é errado. Dito isso, vamos relembrar os que foram citados pelos candidatos no debate da RBS TV à noite passada sobre mercado de trabalho. Para criticar os fechamentos de atividades econômicas determinados pelo então governador na pandemia, o candidato Onyx Lorenzoni disse que isso provocou a extinção de 500 mil empregos em 2022 no Estado, dado que a coluna não encontrou nas estatísticas. Em resposta, Eduardo Leite usou a informação de que 145 mil postos de trabalho foram abertos, mas considerando de março de 2020 a julho de 2022.
Primeiro ponto: eles usam períodos diferentes como base, o que já distorce a comparação dos dois dados. Realmente, em 2020, houve uma sangria no mercado de trabalho, especialmente no comércio e no setor de serviços. Os fechamentos prolongados e a incerteza sobre o futuro próximo fizeram empresas demitirem ou, ao menos, pensarem muito antes de abrir uma vaga. Usando o ano todo, que foi a base do comentário de Onyx, foram fechados 42.533 empregos no Rio Grande do Sul. O saldo ficou negativo também no país, com extinção de 192.580 postos de trabalho.
O pior momento se concentrou entre março e julho daquele ano. Os demais meses tiveram, na sua maioria, saldo positivo. Em 2021 e 2022, o mercado se recuperou. Então, desde março de 2020 até setembro agora, foram criadas 165.632 empregos no Rio Grande do Sul. Já o país soma 4,404 milhões de novas vagas. Os dados são do Ministério do Trabalho e consideram emprego com carteira assinada, foram compilados pela coluna com ajuda do economista Oscar Frank, da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA).
Na avaliação da coluna, todas as medidas de manutenção de emprego e de crédito para pequenas empresas foram as melhores a ser tomadas pelos governos durante a pandemia. Deram fôlego às empresas - das mais fortes às mais frágeis - para segurarem as pontas nos momentos mais difíceis.
O governo federal chegou a permitir suspensão de contrato de trabalho, complementando a renda do trabalhador. No Estado, foram anunciadas medidas tributárias para empresas. Teve auxílio emergencial nacional e estadual. O gaúcho acabou sendo pago a apenas duas das quatro categorias previstas, o que, segundo o governo gaúcho, foi por falta de repasse de informações pelo INSS. Em relação ao crédito, destaque nacional para o Pronampe, que teve como paralelo estatual o Juro Zero. Ambos programas subsidiaram o juro para empréstimos a micro e pequenas empresas. Seus recursos se esgotaram rapidamente.
Porém, mesmo com a recuperação do mercado de trabalho e com um saldo positivo de criação de empresas, um tsunami como a pandemia deixa feridos no caminho. Pesquisas de pobreza e fome mostram que a ponta mais frágil está sentindo muito. Perdeu trabalho - muitas vezes, informal -, endividou-se para pagar contas básicas mensais e viu a renda ser corroída pela inflação, que caiu agora, mas foi de dois dígitos no ano passado. Apesar dos auxílios públicos, a conta dessas famílias ainda não está fechando, o que dificulta até a sua inserção no mercado de trabalho. É desafio prioritário para quem vencer no domingo.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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