As ações da Petrobras despencavam mais de 4% na abertura do mercado nesta sexta-feira (19). A bolsa de valores de São Paulo, B3, iniciou o pregão às 10h. A queda já vinha ocorrendo no indicador futuro antes mesmo da abertura e nas ações brasileiras negociadas no pré-mercado dos Estados Unidos. E se intensificou, já que no final da manhã a desvalorização dos papéis da estatal já superava 5%.
Atualização: Por volta das 14h, a queda das ações da Petrobras acelerou para mais de -7%. Isso ocorreu após nova fala do presidente Jair Bolsonaro reiterando mudanças na estatal. Confira: "Anuncio que teremos mudança, sim, na Petrobras", confirma Bolsonaro
E essa queda intensa não surpreende, já que era esperado que o mercado reagisse às declarações irritadas do presidente Jair Bolsonaro à noite passada. Além disso, o petróleo está em queda após retomada da produção no Texas, nos Estados Unidos, que enfrentava uma onda de frio. A Petrobras pesa bastante no Ibovespa, que também cai mais de 1% nessa esteira, na contramão do movimento positivo nas bolsas mundiais.
Ao afirmar que zeraria os tributos federais sobre diesel e gás de cozinha, Bolsonaro falou que não mexeria na política de preços da estatal, mas, em seguida, afirmou que alguma coisa vai acontecer na Petrobras. Isso ocorreu após a forte elevação de preços anunciada pela estatal nessa quinta-feira (18), com alta de 22 centavos na gasolina e de 33 centavos no diesel.
— Teve um aumento fora da curva na Petrobras. A bronca vem sempre pra cima de mim, mas a Petrobras tem autonomia. (...) O que foi decidido hoje: a partir de 1º de março, não haverá qualquer imposto federal no diesel por dois meses. Por que por dois meses? Porque vamos estudar uma maneira definitiva de zerar esse imposto no diesel. Até para ajudar a contrabalancear esse aumento excessivo da Petrobras, mas eu não posso interferir. Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias. Você tem que mudar alguma coisa — afirmou o presidente em transmissão online.
O mercado viu a declaração como populista. A Petrobras é uma das principais ações do Ibovespa. Ela tem elevado preços porque acompanha o mercado internacional, onde o petróleo sobe e o real segue desvalorizado frente ao dólar, sem sinais de mudança no cenário. A política de preços foi construída após diversos anos em que a estatal foi usada para política de governo, como a contenção da inflação. A dúvida é como algo acontecerá na Petrobras sem que se faça interferência em preços, como disse o presidente. No mercado, o que se fala é que Bolsonaro quer é demitir o presidente da estatal, Roberto Castello Branco. Mas isso tem que passar pelo conselho de administração. Então, uma saída, ainda considerada improvável, é que ele peça demissão.
E tem mais. A isenção de tributos deve trazer uma perda de R$ 3 bilhões na arrecadação federal. Em tempos de contas públicas desafiadoras e estudo para retorno do auxílio emergencial, a informação no calor da discussão ontem gera ainda mais preocupação dos investidores. E mais: pressiona mais ainda o dólar, aumentando a desvalorização do real. O que, por sua vez, fecha o ciclo pressionando mais ainda os preços dos combustíveis para cima. Parece quase um tiro no pé. O dólar opera em alta nesta sexta-feira, claro, vendido em torno de R$ 5,46.
Expectativa grande para alguma fala do presidente da Petrobras, que foi citado também por Bolsonaro no discurso de ontem. A redução do PIS/Cofins no óleo diesel anunciada por Bolsonaro atende a demanda de caminhoneiros, base de apoio do presidente que tem pressionado o governo por conta do aumento do custo do combustível. Em ameaça indireta ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, o presidente citou que o comandante da estatal chegou a dizer que não tinha "nada a ver com os caminhoneiros".
— Como disse o presidente da Petrobras, a questão de poucos dias, né: 'eu não tenho nada a ver com caminhoneiro. Eu aumento o preço aqui não tenho nada a ver com caminhoneiro'. Foi o que ele (Castello Branco) falou, o presidente da Petrobras. Isso vai ter uma consequência, obviamente — disse Bolsonaro.
Para o mercado financeiro, o reajuste de preços dos combustíveis é necessário. A Petrobras tem capital aberto, com ações negociadas em bolsa. A política de preços com monitoramento do cenário internacional é essencial para manter a valorização dos papéis da empresa.
- Esse aumento é necessário para não fugir da paridade. Se a companhia não praticar preços internacionais, o custo de financiamento dos credores aumentará, e todo plano de recuperação dela - já em execução - correrá riscos. Não tem jeito - comenta Wagner Salaverry, sócio da Quantitas Asset, gestora de fundos de Porto Alegre.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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