Ao afirmar que zeraria os tributos federais sobre o diesel e o gás de cozinha, o presidente Jair Bolsonaro também falou da Petrobras. Disse que não mexeria na política de preços da estatal, que é um assunto muito delicado. Mas, em seguida, afirmou que alguma coisa vai acontecer na Petrobras. Isso ocorreu após a forte elevação de preços anunciada pela estatal nessa quinta-feira (18), com alta de 22 centavos na gasolina e de 33 centavos no diesel.
— Teve um aumento fora da curva na Petrobras. A bronca vem sempre pra cima de mim, mas a Petrobras tem autonomia. (...) O que foi decidido hoje: a partir de 1º de março, não haverá qualquer imposto federal no diesel por dois meses. Por que por dois meses? Porque vamos estudar uma maneira definitiva de zerar esse imposto no diesel. Até para ajudar a contrabalancear esse aumento excessivo da Petrobras, mas eu não posso interferir. Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias. Você tem que mudar alguma coisa — afirmou o presidente em transmissão online à noite passado.
De imediato, isso já deixou os investidores agitados e atentos, o que terá efeito na bolsa de valores nesta sexta-feira (19). O mercado viu a declaração como populista. A Petrobras é uma das principais ações do Ibovespa. Ela tem elevado preços porque acompanha o mercado internacional, onde o petróleo sobe e o real segue desvalorizado frente ao real, sem sinais de mudança no cenário. A política de preços foi construída após diversos anos em que a estatal foi usada para política de governo, como a contenção da inflação. A dúvida é como algo acontecerá na Petrobras sem que se faça interferência em preços, como disse o presidente. No mercado, o que se fala é que Bolsonaro quer é demitir o presidente da estatal, Roberto Castello Branco. Mas isso tem que passar pelo conselho de administração. Então, uma saída, ainda considerada improvável, é que ele peça demissão.
A declaração de Bolsonaro foi após o fechamento da bolsa de valores, B3. Então, o efeito será hoje. Se não cair, é porque os investidores estão se questionando se a intervenção na Petrobras ocorrerá mesmo ou apenas apareceu em discurso. Expectativa grande para alguma fala do presidente da empresa, que foi citado também por Bolsonaro no discurso. A redução do PIS/Cofins no óleo diesel anunciada por Bolsonaro atende a demanda de caminhoneiros, base de apoio do presidente que tem pressionado o governo por conta do aumento do custo do combustível. Em ameaça indireta ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, o presidente citou que o comandante da estatal chegou a dizer que não tinha "nada a ver com os caminhoneiros".
— Como disse o presidente da Petrobras, a questão de poucos dias, né: 'eu não tenho nada a ver com caminhoneiro. Eu aumento o preço aqui não tenho nada a ver com caminhoneiro'. Foi o que ele (Castello Branco) falou, o presidente da Petrobras. Isso vai ter uma consequência, obviamente — disse Bolsonaro.
E não é apenas o mercado financeiro que ficou com receio. Os postos de combustíveis, o elo da cadeia econômica mais perto do consumidor, também estão com receio dessas movimentações bruscas de preços e medidas anunciadas no meio da forte repercussão.
- Toda redução de impostos é bem-vinda, mas temos receio de decisões tomadas no calor dos problemas e com sentido provisório. Podem gerar mais restrições futuras. Quanto à Petrobras, vamos aguardar o que poderá ocorrer - diz o presidente do Sulpetro, sindicato que representa os postos no Estado, João Carlos Dal'Aqua.
Ele lembra que o barril do petróleo já esteve bem mais caro e a carga tributária é a mesma há vários anos. O que mudou agora é que o dólar está nas alturas. Para cair, é preciso que a economia dê sinais mais fortes de retomada e que a situação fiscal do governo federal melhore. Não é algo que se faça em um curto prazo para se sentir nas bombas. Aliás, se espera também alguma manifestação do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre abrir mão de arrecadação com os tributos dos combustíveis enquanto a equipe trabalha para retomar o auxílio emergencial.
Na semana passada, o governo federal enviou um projeto ao Congresso para mudar a cobrança do imposto estadual ICMS sobre os combustíveis, mas, mesmo que seja aprovado passando pela divergência gerada com os Estados, não é garantia de redução de preços: O projeto que muda o ICMS de combustíveis reduzirá os preços ao consumidor?
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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