Os preços dos alimentos estão disparando há alguns meses e sem sinais de trégua. O consumidor sente no bolso e a alta aparece nas pesquisas. Entre elas, o monitoramento da de 13 itens básicos feito pelo Dieese todos os meses. A cesta básica de Porto Alegre subiu 5,16% em outubro sobre setembro, passando a custar R$ 581,39. Ou seja, em um mês subiu mais do que a inflação de um ano interior na Capital, que, segundo o IBGE, está em 3,18%.
Aqui, há uma comparação que impressiona ainda mais. O aumento da cesta básica do Dieese é de 25,51% nos últimos 12 meses. Isso significa, que os alimentos básicos da mesa do consumidor subiram oito vezes a inflação geral para o consumidor.
- O salário mínimo necessário deveria ser de R$ 5.005,91 ou 4,79 vezes o valor atual de R$ 1.045 - comenta a técnica do Dieese em Porto Alegre, Daniela Sandi, se referindo ao cálculo feito sempre pelo instituto considerando o essencial para manter uma família.
O alimento que mais subiu de preço de um ano para cá foi o óleo, com alta de 107,06%. Isso significa que praticamente dobrou de preço, com alta de 20,22% só em outubro. Mais popular pelo preço mais baixo, o óleo de soja disparou há alguns meses. Aliás, o grão é usado para outros alimentos. Com o aumento do dólar elevando custos e exportações, a cotação subiu e chega ao consumidor. A soja é, inclusive, usada na ração de animais, tendo sua contribuição no aumento da carne.
- O alto volume de exportação, a baixa oferta interna devido à entressafra e a elevação do preço do grão no mercado internacional explicam o contínuo aumento de valor do óleo nas prateleiras dos mercados - diz Daniela, do Dieese.
Em segundo lugar, está o arroz. O alimento que tem grande espaço no prato do brasileiro está 78,97% mais caro do que no mesmo período do ano passado.
- O aumento do preço do grão se deveu à maior demanda por parte das indústrias dos estados do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e São Paulo, ao aumento das cotações no mercado internacional e às exportações do grão. Mesmo que haja maior oferta, propiciada pelas importações, o câmbio desvalorizado deve manter elevado o valor do arroz comercializado - acrescenta a técnica.
Em seguida, aparecem o tomate (+53,38%) e o feijão (+53,36%). Outras elevações relevantes, mesmo que menos intensas: leite (+30,28%), carne (+27,25%), batata (+20%), farinha (+17,46%), banana (+8,92%), manteiga (+8,54%), café (+8,13%), açúcar (+7,41%) e pão (+5,23%).
Elevação de exportações e falta de gado para abate aumentaram o preço da carne bovina. Batata vinha caindo de preços, mas a redução da oferta no final do inverno também trouxe impacto de preços. Comportamento semelhante acontece com o tomate, com a qualidade do alimento e a oferta reduzidas.
Destaque para a queda de 2,37% no preço do leite em outubro, com reflexão na manteiga, que é um derivado e ficou 0,85% mais barata. Foram as únicas reduções da cesta básica do mês passado. A coluna já tinha percebido, relembre: Após disparada, preço do leite começa a trazer alívio para o consumidor
Quando são os alimentos que pressionam a inflação, quem sofre mais são as famílias de baixa renda. São esses consumidores que comprometem mais do orçamento para comprar comida. Houve ainda o auxílio emergencial, que, por vários meses, elevou a renda da população brasileira. Mais consumo e capacidade de pagamento abre espaço para aumento de preços. Inclusive, com manifestações da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) de que os repasses pela indústria estavam abusivos em algumas ocasiões.
Mas por que dizem que a inflação está baixa? Porque outros itens compõem o cálculo. Entre eles serviços. Prestadores não têm considerando reajustar preços e estão, até mesmo, reduzindo valores. Tem ainda o preço da gasolina, que até teve altas recentes, mas está inferior a outros anos. A passagem aérea caiu bastante no início da pandemia e até voltou a subir recentemente, mas a alta é menor em voos de Porto Alegre. Outro ponto relevante é o gasto com educação, com descontos com a suspensão das aulas presenciais e reduções permanentes de mensalidades escolares.
Sobre a inflação
Como é calculada a inflação?
O IBGE e outros institutos de pesquisa têm uma lista de produtos e um modelo de gastos da família média brasileira. Cada item tem um peso diferente no cálculo do índice, conforme ele pesa no orçamento das pessoas. Todas as semanas, os preços são monitorados. Uma alta de 5% no leite, importante item da alimentação, representa muito mais na inflação do que um aumento de 20% no caderno, com o que as famílias gastam pouco da renda da casa.
Por que sigo achando que está tudo caro?
Temos no país institutos de pesquisa confiáveis e que calculam a inflação paralelamente ao índice oficial do IBGE, o que permite fazer a comparação. É preciso lembrar que o índice considera uma família média e que, talvez, não seja igual ao seu consumo.
O que é inflação pessoal?
Os educadores financeiros costumam orientar para que façamos a nossa inflação pessoal. A dica nada mais é do que pesquisar preços para pagar menos pelos produtos, substituir itens do orçamento ou adiar gastos. É possível, com isso, ter uma deflação familiar enquanto os índices apontam alta de preços.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da colunista
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.