Já está virando rotina para os lojistas a falta de produtos. A coluna tem acompanhado os relatos, que vão de pedidos cancelados por indústrias e distribuidores, suspensão de vendas com retomada prevista somente para 2021 e até encomendas entregues parcialmente. A quebra na produção da indústria vem sendo alertada pela coluna há semanas. Começou pelos materiais de construção, passou para as latinhas de cerveja, pelos caminhões e agora a escassez de produtos para encomendas se espalha para outros segmentos.
Os planos de venda para Black Friday e Natal já foram afetados. Fontes procuraram a coluna para relatar falta de eletrodomésticos, eletrônicos, pneus, colchões, confecções, roupas de cama, mesa e banho. Quando se fala no insumo, é escassez de algodão, plástico, cobre, resina, aço, papelão, entre outros. Às vezes, há produto, mas não tem embalagem para transporte ou mesmo para vendê-lo.
As indústrias tiveram um período bem menor do que o varejo de restrições de funcionamento por decretos na pandemia. No entanto, muitas alongaram a suspensão das atividades e outras tantas mantiveram a produção reduzida apostando que as encomendas não iriam reagir logo e na intensidade que está acontecendo agora. Do transporte de cargas e venda de papel ondulado para embalagens, que são indicadores de tendência da economia, até os indicadores já consolidados, a reação da economia tem dado sinais fortes. Não está no patamar do ano passado, mas a demanda cresceu o suficiente para apontar essa quebra na produção da indústria, seja por falta de matéria-prima, de funcionários que precisam ser recontratados ou mesmo porque não são todas as empresas que conseguem retomar produção de uma semana para a outra no parque fabril por suas peculiaridades.
Mesmo que a produção ocorra, os itens esbarram em outro gargalo. É a logística. O transporte de cargas está muito aquecido, até por levar alimentos aos portos para exportação. Tirando os alimentos que estão batendo recordes de comercialização, outros produtos não estão com a venda alta para a média normal fora da pandemia. O problema é que a produção caiu bastante. Isso é um descompasso por problemas e uma real dificuldade de projeção e planejamento durante a pandemia. O auxílio emergencial até elevou o consumo realmente, mas não pode ser apontado como único motivo para aumento de preços. Para fechar, diversos varejistas também relatam à coluna problemas para importar da China, que é fornecedora de insumos, maquinário e ainda de produtos finais.
Alta na procura com baixa oferta é a combinação que leva à alta de preços. Indicadores de inflação de atacado refletem a alta do dólar, mas também a escassez de produtos. O que se percebeu no início da pandemia nos EPIs, como são chamados os equipamentos de proteção individual, se alastra agora pela economia. Alerta para a retroalimentação da inflação brasileira, já que esses índices são indexadores de diversos contratos. Mesmo com a crise da pandemia ainda forte segurando reajustes de preços aos clientes, essa alta chegará em parte à inflação para o consumidor.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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