Começou pelos materiais de construção, passou para as latinhas de cerveja, pelos caminhões e agora a escassez de produtos para encomendas se espalha para outros segmentos. O varejo do Rio Grande do Sul enfrenta dificuldades para comprar diversos produtos da indústria, atrapalhando as encomendas de Black Friday e Natal. Fontes procuraram a coluna para relatar falta de eletrodomésticos, eletrônicos, pneus, colchões, confecções, roupas de cama, mesa e banho.
As indústrias tiveram um período bem menor do que o varejo de restrições de funcionamento por decretos na pandemia. No entanto, muitas alongaram a suspensão das atividades e outras tantas mantiveram a produção reduzida apostando que as encomendas não iriam reagir logo e na intensidade que está acontecendo agora. Do transporte de cargas e venda de papel ondulado para embalagens, que são indicadores de tendência da economia, até os indicadores já consolidados, a reação da economia tem dado sinais fortes. Não está no patamar do ano passado, mas a demanda cresceu o suficiente para apontar essa quebra na produção da indústria, seja por falta de matéria-prima, de funcionários que precisam ser recontratados ou mesmo porque não são todas as empresas que conseguem retomar produção de uma semana para a outra no parque fabril por suas peculiaridades.
- A economia não é bem uma roda. Ela é uma engrenagem. Se quebra alguma pecinha, se ela deixa de funcionar, o efeito se propaga - diz o presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Sérgio Galbinski, que confirma estar recebendo diversos relatos sobre a falta de produtos.
Conhecida empresa de Santa Catarina, a Altenburg suspendeu vendas novas para 2020. Atribui à alta demanda, sendo que a fabricante de roupa de cama e banho demitiu 200 pessoas em abril, ápice da pandemia. Outra fabricante de têxteis, a Karsten também está abrindo vagas que tinham sido fechadas para tentar atender às encomendas.
Mesmo que a produção ocorra, os itens esbarram em outro gargalo. É a logística. O transporte de cargas está muito aquecido, até por levar alimentos aos portos para exportação. Diretor do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Rio Grande do Sul (Setcergs), Diego Tomasi tem relatado à coluna que caminhões novos só serão entregues pelas montadoras em janeiro de 2021, assim como implementos rodoviários.
- O preço dos caminhões também está subindo muito. Tendência é repassar o custo para os preços do frete - avisa.
Reflexos também no transporte de passageiros:
- Tenho que ir para São Paulo na semana que vem e já não há voo pela manhã - relata Augusto Rocha, vice-presidente de vendas e marketing da Pmweb.
Tirando os alimentos que estão batendo recordes de comercialização, outros produtos não estão com a venda alta para a média normal fora da pandemia. O problema é que a produção caiu bastante. Isso é um descompasso por problemas e uma real dificuldade de projeção e planejamento durante a pandemia. O auxílio emergencial até elevou o consumo realmente, mas não pode ser apontado como único motivo para aumento de preços. Para fechar, diversos varejistas também relatam à coluna problemas para importar da China, que é fornecedora de insumos, maquinário e ainda de produtos finais.
Sobre as liquidações da Black Friday, o presidente da AGV avisa:
- Dólar subiu e algodão também. As lojas de calçados e vestuário anteciparam liquidações e estavam com receio de fazer as encomendas da próxima estação. Quase não tem mais o que liquidar. Se forem para uma Black Friday, seria realmente para vender “a rapa do tacho” - finaliza Galbinski.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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