Se tem um setor que está aquecido é o imobiliário com todos os estímulos e o juro reduzido, o que movimenta também a construção civil. Além disso, o varejo de materiais de construção foi considerado essencial e pouco sofreu com as restrições. Como tempero, as pessoas estão mais em casa e gastando com reformas do lar.
Ao mesmo tempo, a pandemia patrolou planejamentos e fez muitos pisarem no freio nas primeiras semanas. A produção de insumos foi reduzida com paralisações de fábricas e com o receio de queda nas encomendas. Agora, estão sendo feitos ajustes ao rumo real que se deu à economia da pandemia.
Mas, até lá, temos redução de oferta e alta da demanda. Aí, o resultado é mais alta de preços. Isso apareceu no Índice Nacional da Construção Civil (INCC) divulgado nesta terça-feira (25). A "inflação da construção" vem avançando. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, passou de 0,23% em julho para 0,34% em agosto em Porto Alegre. Mas está bem mais forte, por exemplo, no Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, onde a atividade está mais aquecida ainda. Cimento, condutores elétricos, tijolos e telhas são as maiores pressões de alta.
Se já chegou para as construtoras, ainda está começando a aparecer aos poucos a alta de preços no varejo. A pesquisa do IBGE na região metropolitana de Porto Alegre, por exemplo, identifica aumentos pequenos ainda. A coluna conversou sobre a situação com o empresário Felippe Sielichow, que é diretor da Ferragem Porão, que tem duas lojas na Capital, e também da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção (Acomac) e do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (SindilojasPOA):
- Estamos com muitos problemas no cobre. O fio flex 2,5 dobrou de preço de março até agora, devido à falta de cobre no mercado. As fábricas de escadas de alumínio estão com pedidos programados para entrega em dezembro, pois não têm o insumo. Ontem, a Amanco suspendeu os pedidos, pois está faltando resina para os plásticos. A nossa sorte é que temos muitos distribuidores. Então, se falta na indústria, eles ainda têm estoque. Muitas indústrias deram férias coletivas em março, desligaram equipamentos, demitiram pessoas. Só que o nosso ramo não parou e teve aumento na demanda. Lojistas estão aumentando os estoques também, e a indústria não estava preparada. Na Ferragem Porão, o nosso forte é tinta. Por enquanto, está tudo normal.
A volta da confiança
O bom disso é que anima os empresários do setor para que invistam nos negócios, o que gira a economia neste momento tão delicado de crise. O Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio Vargas, avançou 4,1 pontos, alcançando 87,8 pontos em agosto. Após quatro meses consecutivos de alta, o índice recuperou 82% dos pontos perdidos em março e abril desse ano. A confiança dos empresários brasileiros do setor, portanto, quase alcança o período anterior à pandemia.
- Um aspecto importante a ser destacado nessa sondagem é a queda expressiva de assinalações no quesito Demanda Insuficiente como fator de limitação – depois de alcançar 60,3% em abril, caiu para 44,4% em agosto. Esse é o menor percentual desde fevereiro de 2015 (44,1%) e está, em grande parte, relacionado ao bom desempenho recente das vendas no mercado imobiliário residencial. Vale registrar também o aumento de assinalações em Escassez de Material e/ou Equipamentos, que alcançou 7,8%, o maior percentual desde setembro de 2010 (9,8%). É provável que essa dificuldade esteja relacionada ao crescimento expressivo da demanda de materiais por parte das famílias, que vem sendo registrado pelo comércio varejista - observa Ana Maria Castelo, Coordenadora de Projetos da Construção da FGV IBRE.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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