Todos os dias e várias vezes ao dia, converso com o que se chama de "agentes econômicos" em Porto Alegre. São todas as pessoas que, de alguma forma, fazem a economia girar na Capital. As percepções do que está acontecendo são de uma diferença que o leitor não conseguiria nem imaginar. Tem o presidente da entidade, o representante do governo, mas tem também o dono da lojinha, da barbearia, o trabalhador, o fornecedor, o cliente... E a coluna escuta ainda o médico e outros cientistas, eventualmente. O universo de pessoas envolvidas é - quase - infinito.
À noite passada, fiquei pensando se essas pessoas têm ideia do avanço que ocorreu nesta semana. Menos do que alguns empresários querem, o que é compreensível. E mais do que os médicos concordam, o que também é compreensível. Acontece que muita coisa mudou, das sutilezas às liberações econômicas efetivas. Todo esse movimento recente começou exatamente há uma semana, quando o prefeito Nelson Marchezan Junior autorizou a volta do futebol em Porto Alegre. Foi um baque nos setores econômicos. Em especial, o varejo que estava vendo o Dia dos Pais chegar mais perto no calendário, esperava alguma flexibilização, nem que fosse apenas a autorização para o pegue e leve, mais conhecido agora como takeaway. No final de semana passado, então, uma reunião de empresários avançou a madrugada de domingo, levando a um convite enviado pela prefeitura da Capital para reunião já na segunda, que não foi pacífica.
Marchezan começou a semana achando que o empresariado queria tudo ou nada. Abrir tudo de uma vez e azar das vidas, essa era a percepção. As entidades empresariais avançaram bem, mudando a proposta e aceitando restrições de horários importantes para reduzir a circulação que preocupa o prefeito. As reuniões tiveram mudanças de tom, melhorando já na terça, a parte prática começou a ganhar relevância na discussão. Por causa do impeachment ou apesar dele, vai saber e nem importa neste momento.
Mas a coluna identifica que o mais importante nesse processo de avanço está no pé da proposta dos empresários:
"Fica definido que no dia 24 de agosto, segunda feira, que a PMPA e as Entidades farão uma avaliação destas medidas tomadas e os seus reflexos.
Caso não ocorra uma variação significativa no uso dos leitos e número de óbitos as atividades, poderão ser ampliadas, com ajustes de horários e dias.
Caso o Município apresente uma condição negativa, em 48 horas serão tomadas medidas restritivas."
Se a data será essa, se a flexibilização após o Dia dos Pais seguirá a proposta dos empresários, ainda não se sabe. Mas neste trecho, as entidades empresariais puxam para si parte do risco sanitário da flexibilização, que é o coronavírus se descontrolar em Porto Alegre. Os representantes com que a coluna conversa não acreditam nisso, claro, e por isso sugerem. Acham que o comércio - e outras atividades - conseguirão seguir os protocolos e não levar ao colapso da saúde. Tomara. O próprio prefeito disse para a coluna que gostaria muito de estar errado ao temer o avanço da doença com a flexibilização.
- Eu queria liberar tudo. Qual gestor público não queria estar anunciando isso, investimentos, crescimento, emprego?
O prefeito teme e tem seus técnicos de saúde alertando sobre o risco da flexibilização. Ou seja, risco político tem nos dois caminhos. Está colocando na balança o risco sanitário e o risco econômico agora. Os dois são pesados.
As entidades empresariais se comprometeram na proposta a aceitar o fechamento de tudo de novo caso os indicadores de saúde piorem. São instituições que representam empresas. Seja pequeno ou grande, são estabelecimentos comandados e conduzidos no balcão por pessoas que precisam se comprometer. Já foi liberado para o Dia dos Pais e, ao que tudo indica, vêm mais autorizações por aí. Hoje, tem mais reunião. O voto de confiança está sendo dado e em uma semana que os indicadores de saúde nem estão favoráveis. Mesmo que não se consiga colocar todos do mesmo lado da mesa de negociação, mas que, ao menos, sentem-se na mesma mesa.
Em tempo, o prefeito Nelson Marchezan Junior tem reunião com a construção civil às 10h. Logo depois, às 11h, haverá um encontro com o comércio. É possível que o comércio siga aberto, com restrições de horário, e que outras atividades recebam suas flexibilizações para a semana que vem. Inicialmente, a proposta do prefeito para um lockdown planejado não tende a avançar sem o apoio das entidades.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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