Matheus Von Muhlen, CEO do Open Food Institute, procurou a coluna para falar sobre o futuro da alimentação e pedimos que comentasse sobre o impacto da pandemia nesse caminho que vinha sendo traçado nos últimos anos. Executivo em grandes empresas de bens de consumo por 15 anos, lidera atualmente a área de plant based da Urban Farmcy, que é a alimentação com base em vegetais. Ele é o idealizador do Open Food Innovation Summit 2020, evento que será realizado em outubro de forma digital via streaming.
Uma novidade do evento deve girar na impressão 3D de alimentos. Depois de metal e plástico, os equipamentos agora usam alimentos como matéria-prima. Inclusive, itens frescos e saudáveis. Algumas impressoras apenas moldam comidas prontas em formatos diferentes, mas outras são capazes de imprimir e cozinhar os pratos.
Qual o efeito da pandemia no futuro do alimento?
O futuro do alimento viverá uma nova realidade no pós-pandemia. Os alimentos deverão atender não apenas questões nutricionais, mas também às necessidades do planeta. No evento, vamos reunir empresas e empreendedores que já estão vivendo e gerando negócios nessa nova realidade, vão apresentar novidades que vão desde a impressão 3D de alimentos para evitar contaminação até reutilização das sobras dos alimentos para gerar energia elétrica limpa. A pandemia acelerou a introdução das inovações digitais, como maior rastreamento da origem da produção, realização de compras de maior volume no aplicativo e busca por fornecedores hiperlocais para atender às demandas cada vez mais em tempo real.
Qual o segmento mais cresceu na pandemia?
Nenhum assunto de negócio foi mais impactado que o delivery. iFood transformou o mercado que mais cresceu na pandemia em algo sustentável no longo prazo para todos os elementos impactados, desde o motoboy até os fornecedores.
No futuro, teremos alimentos para todos?
Já temos. A grande dificuldade é a distribuição desse alimento para todos as pessoas do planeta. Por isso, a tecnologia tem papel fundamental de eliminar essa ineficiência. O caminho da inovação é eliminar essas barreiras e permitir a acessibilidade do alimento de qualidade a todos.
Qual o tema neste universo que mais tem gerado discussões no período?
O foodcare, ou seja, entender o que, além de alimentar, a comida pode fazer pelo nosso corpo.
O que fazer para tornar a comida mais barata e acessível?
Entender as capacidade locais. Diversos estudos demonstram que redes hiperlocais de alimento permitem o acesso da comunidade de um alimento de qualidade. A maior transparência de informações gerada pela digitalização faz com que a produção e o alcance do alimento de qualidade seja mais rápido, fácil e barato.
As receitas serão criadas por inteligência artificial? Comente sobre a produção de alimentos a partir de impressão 3D.
Sim! O papel da inteligência artificial não é inventar a roda, mas vai permitir que ela gire mais rápido. Isso significa que as receitas vão ser construídas em conjunto com I.A., em que os algoritmos vão apontar desde a qualidade nutricional ideal para o corpo até a época ideal de comprar alimento mais barato. A impressão 3D permite que a habilidade de misturas seja padronizada, e além disso a capacidade visual dos alimentos seja aumentada. Essa questão é fantástica, pois permite ter um alimento com a beleza e o sabor das receitas na sua casa, ao toque de um botão.
O futuro da produção de alimentos e da agricultura vai estar cada vez mais perto das nossas casas?
O acesso à tecnologia vai permitir que produtores locais vendam seus produtos para um maior número de pessoas. A feira vai se tornar cada vez mais um programa lúdico, com o entendimento da origem dos produtos. A relação de atendimento e a relação com família e amigos vai mudar. Vai ser possível fazer a feira para seus filhos que estão em outra cidade. Ainda, a preocupação do consumidor abriu um novo mercado no pós-pandemia.
O desperdício de alimentos é algo extremamente preocupante. Quais as possíveis soluções e principais questões aqui?
A questão aqui é saber o que fazer além de produzir e consumir os alimentos. Esses já estão sendo pensados para além de seu valor nutricional. Cada vez mais a inovação vai permitir aproveitarmos o alimento para gerar energia e novos produtos, como calçados com cabedal feito de casca de frutas e itens domésticos como canecas a base da borra do café. A Geo Bionergetica, uma startup de R$ 125 milhões, mostra que da sobra da biomassa é possível gerar eletricidade capaz de atender fábricas e casas de uma região inteira. Essa energia é limpa e renovável, sem impactar as pessoas e o meio ambiente.
E sobre os novos hábitos alimentares?
O maior avanço que a tecnologia vai gerar é a mudança da nossa capacidade de escolha do alimento. Vamos saber quais alimentos combinam com a nossa genética, e como afetam nosso corpo de maneira positiva. Vamos entender o que comer para ficarmos mais saudáveis e inteligentes.
Qual é hoje o tamanho do mercado de alimentos?
Os negócios neste mercado tiveram aumento de até dois dígitos na pandemia e a reação do consumidor neste período foi catalisadora para uma série de oportunidades de grande valor para uma cadeia de R$ 30 bilhões ao ano somente no Brasil. Hoje, o mercado de alimentos tem o tamanho de U$ 93 bilhões, mais de 3 mil novas empresas, e impactará mais de 1 bilhão de pessoas nos próximos cinco anos.
Como deverá ser o preço da comida do futuro?
O preço do alimento deverá ser mais estável. Uma cadeia com melhor previsibilidade, através de uma série de tecnologias integradas, vai permitir menor variação do preço.
Como a nova geração se comporta diante desse tema?
O alimento do futuro deve ser saudável para o corpo, sustentável para o planeta e saboroso para as pessoas. O futuro pertence às empresas e pessoas que entregarem esse três fatores em conjunto.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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