A Pirelli deu início na madrugada à demissão dos trabalhadores para o fechamento da unidade de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. Já foram quase 150 desligamentos. A decisão da empresa de transferir a produção gaúcha para Campinas (SP) foi anunciada ainda em 2019, mas um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Artefatos de Borracha (STIAB) conseguiu adiar as 850 demissões até agora.
A produção de pneus para motocicletas da unidade da Pirelli fechará em 2021, após mais de 40 anos da operação no Rio Grande do Sul. Muitos funcionários, inclusive, já aderiram ao plano de demissões. Procurada pela coluna, a Pirelli confirma que iniciou a redução do quadro de funcionários e que tem relação com a reestruturação nos negócios anunciada ainda no início de 2019.
O número de demissões que ocorrem nesta quarta-feira (1) foi confirmado pelo vice-presidente do STIAB, Moacir Bitencourt:
- É difícil concorrer. Por mais que tenhamos mão de obra mais barata, o ICMS de pneus em São Paulo é de 12%. Aqui no Rio Grande do Sul, é de 18%. Tentamos reuniões com o governo do Estado em busca de apoio, mas não conseguimos - diz Bitencourt.
Atualização: O governo do Estado procurou a coluna para lembrar que o governador Eduardo Leite se reuniu no ano passado com a direção da Pirelli. Segundo ele, tentou reverter a decisão, mas disse que recebeu a explicação de que a decisão não envolvia incentivos ou questões de governo, mas era mudança estratégica. Também na ocasião, o governador disse que buscaria empresas interessadas na área que pudessem aproveitar a capacidade instalada e os trabalhadores.
Aliás, o sindicato também manifesta forte preocupação com a unidade da Prometeon, fabricante de pneus para veículos pesados, como caminhões e tratores, criada a partir da Pirelli, mas que hoje é uma empresa separada e apenas usa a marca licenciada para o produtos. A unidade de Gravataí emprega 1,35 mil pessoas e gera mais 400 empregos na operação de logística.
- Deixamos nosso apelo chamando a atenção dos governos municipal e estadual relação à Prometeon, que muito nos preocupa tendo em vista as dificuldades elencadas por seus representantes quanto à planta de Gravataí por conta das condições fiscais e tributárias que podem inviabilizar também a unidade - reforça o presidente do sindicato, Flavio Quadros.
A expectativa é, inclusive, de que se concretize a informação de que a fábrica de Prometeon seja comprada pela japonesa Yokohama. As negociações ocorrem desde o ano passado, mas ainda sem confirmação.
De origem italiana, a Pirelli foi comprada pela chinesa China National Chemical Corp (ChemChina). A aquisição ocorreu em 2015.
Gravataí ainda sofre pelo Mercado Livre
Há poucos dias, Gravataí também sofreu o baque da desistência do Mercado Livre de instalar um centro de distribuição no município, após ter até iniciado a contratação dos 500 funcionários. Segundo a empresa, haverá uma operação no Sul do país, mas ainda não foi definido o local. Há agora uma negociação com Santa Catarina.
Conforme a coluna noticiou ainda em 2019, a gigante mundial do comércio eletrônico tinha a intenção de colocar no Rio Grande do Sul o seu segundo CD do país. O primeiro fica em São Paulo. Recentemente, também escolheu a Bahia para um centro de distribuição no Nordeste. A empresa concorre mundialmente com a Amazon e tem investimentos bilionários previstos para o Brasil.
Para Gravataí, precisava que o governo gaúcho fizesse uma alteração para que os vendedores que comercializam pela plataforma não precisassem criar uma filial no Rio Grande do Sul. Como não houve andamento, a empresa suspendeu obras e contratações ainda em fevereiro. A desistência gerou polêmica e fez o prefeito de Gravataí, Marco Alba, cobrar publicamente o governador Eduardo Leite. Em nota enviada à coluna, a Secretaria Estadual da Fazenda disse que elaborou um "Regime Especial" para a empresa e considerou que isso viabilizaria o modelo de negócios.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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