De novo, o dado negativo era esperado, mas não deixa de assustar. A produção da indústria do Rio Grande do Sul caiu 21% em abril sobre março, mês em que já tinha registrado um recuo de 20,1%. Com a chegada do coronavírus no Brasil, muitas atividades econômicas foram suspensas, incluindo a produção em diversos segmentos industriais. E, mesmo as que começaram a retomar a produção em abril e até nos meses seguintes, ainda o fazem de forma lenta e gradual.
Já se projetava essa queda forte, considerando que o tombo histórico de 18,8% na média nacional, divulgada ainda na semana passada, foi puxado pelo segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias. Essas fábricas têm grande representatividade na matriz produtiva do Rio Grande do Sul. Aliás, de São Paulo também, que é o principal parque industrial do país e teve queda de 23,2% em abril, destacado pelo IBGE como o pior resultado da série histórica da pesquisa, iniciada em 2002.
Para se ter uma ideia, a produção de veículos, reboques e carrocerias estava em um patamar de 100,6 pontos em fevereiro. Passou para 85,9 em março, e despencou para 19,1 pontos em abril. O setor de metalurgia também tem um desempenho bastante negativo no período. No Rio Grande do Sul, o IBGE monitora o desempenho de 232 produtos. Novamente, houve queda forte na produção de bebidas e móveis também.
Em relação a abril de 2019, a queda do indicador geral foi ainda mais intensa no Rio Grande do Sul. O recuo chegou a 35,8%, o terceiro desempenho mais negativo do país na pesquisa do IBGE. Fica atrás apenas do Amazonas e do Ceará, Estados que estão sofrendo muito com o avanço da covid-19 e seguem com medidas mais restritivas.
Outros comparativos
No acumulado de janeiro a abril de 2020, a produção da indústria do Rio Grande do Sul está 13,5% menor do que no mesmo período do ano passado. Já no acumulado de 12 meses, o recuo é de 3,6%.
E agora?
Aos poucos, as fábricas estão retomando a produção. Claro que a cautela impera, pois a demanda segue muito retraída, com queda nos pedidos e até cancelamentos, sem contar a alta da inadimplência por parte dos clientes. Ainda precisamos de notícias melhores sobre a contenção da pandemia no Brasil, por mais que venham informações positivas de China e Estados Unidos.
Apesar desse receio, na próxima semana tem, por exemplo, o início da retomada da produção na General Motors (GM) em Gravataí. É uma empresa que, além de servir de termômetro, mexe efetivamente com uma cadeia grande de indústrias e serviços no Rio Grande do Sul. Só no complexo gaúcho, são mais de 5 mil empregos. Nesta semana, estão sendo definidos os protocolos de higiene e segurança dos funcionários, confirmou para a coluna o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, Valcir Ascari.
Fabricantes de autopeças começam também a retomar a produção na região metropolitana de Porto Alegre. Mas de forma muito lenta, avisam os sindicatos de metalúrgicos. O número de funcionários é bastante reduzido, assim como os turnos de trabalho. Exemplos disso são Gerdau e GKN, que têm fábricas em Porto Alegre e Charqueadas e fornecem aço e peças para o setor automotivo.
Ainda no balanço financeiro da Fras-le, que faz parte da Randon e assim a coluna sobe a Serra para uma análise, havia um espaço especial destinado a expectativas, que começou falando que o cenário é inédito para a companhia que iniciou as atividades na década de 50. O texto cita que projetar os próximos trimestres é "extremamente desafiador", mas complementa que alguns sinais "confortam que as quedas serão reduzidas nos próximos trimestres".
Segundo o comunicado, a operação da Fras-le na China já opera de forma regular. Por outro lado, a unidade da Índia retomou parte da produção apenas em maio após 40 dias fechada. E em Caxias do Sul? A empresa diz que as vendas ainda indicam retração, mas a carteira de pedidos já começa a esboçar reação. A sinalização, segundo a companhia, é de que a retomada pode ser mais rápida.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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