A parada da indústria automotiva se espalha pela cadeia econômica. Metalúrgicas que têm sua produção destinada a essas fábricas estão prorrogando as paralisações. Com as férias coletivas esgotadas, começam agora a suspender contratos dos trabalhadores, mecanismo anunciado pelo governo federal para conter um parte das demissões durante a pandemia. Sem contar aqueles que tiveram redução de jornada, a coluna já recebeu a informação de suspensão do contrato de mais de 2 mil funcionários na Região Metropolitana nos últimos dias. Conforme medida provisória, o governo federal paga uma complementação do salário, que está sendo chamada de benefício emergencial e é calculada nos mesmos moldes do seguro-desemprego.
Em Porto Alegre, uma assembleia de trabalhadores aprovou a suspensão por 60 dias de 1,6 mil contratos na GKN, uma fabricante de autopeças. Passa a valer já na segunda-feira (27), segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, João Batista Massena.
- A empresa já tinha dado férias e o retorno ainda acabou sendo postergado. Mas, como não tem pedidos, foi necessário esse acordo coletivo que preserva os empregos e ajuda no distanciamento das pessoas na fábrica em virtude da covid-19 - detalha Massena, reforçando que a medida está sendo adotada por muitas empresas. Em especial, de autopeças.
Nessa sexta-feira (24), foi a vez da Gerdau de Charqueadas. Os funcionários aprovaram em assembleia a suspensão dos contratos por dois meses. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Charqueadas, Jorge Carvalho, atinge cerca de 200 trabalhadores, ou seja, 95% da parte operacional.
- Os trabalhadores estão bastante preocupados. A unidade de Charqueadas concorre com a de Pindamonhangaba, em São Paulo.
No final de março, a companhia já tinha decidido suspender por 15 dias a produção na fábrica. Para isso, foram antecipadas as férias dos trabalhadores. A decisão tinha sido tomada devido à redução significativa da demanda pelos setores atendidos pela empresa, principalmente o automotivo, durante a pandemia. No local, a Gerdau produz aços especiais e o principal cliente é a indústria automobilística. No ano passado, já tinha adotado o chamado lay off na unidade, que é a suspensão do contrato de trabalho quando a companhia precisa reduzir produção.
Ainda em Charqueadas, tem assembleia de trabalhadores da unidade da GKN no município na segunda-feira (27). Jorge Carvalho conta que será votada a suspensão de 300 contratos por um mês.
- A empresa tem 31 unidades no mundo, sendo cinco no Brasil. A empresa já nos disse que todas estão paradas.
Nota da Gerdau enviada após a publicação da coluna:
"A Gerdau informa que negociou junto ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Jerônimo medidas de adequação do quadro existente de colaboradores aos atuais volumes de produção de aço na usina de Charqueadas (RS).
A proposta, a ser aprovada em Assembleia no dia de hoje, é que partir de maio, a empresa implemente a suspensão temporária dos contratos de trabalho de parte de seus colaboradores industriais por um período de até 60 dias. Também está sendo proposta uma medida de redução de salários e jornadas para todo público Administrativo e de Lideranças. As medidas, seguem as normas estabelecidas pela Medida Provisória 936/20.
Frente ao cenário de incertezas, a empresa informa também que negociou a prorrogação do Acordo Coletivo de Trabalho que, entre outras coisas, possibilita a manutenção dos turnos de revezamento em sua usina de Charqueadas (RS) por mais 12 meses.
A Gerdau ressalta, ainda, que a saúde e a segurança das pessoas são valores inegociáveis e que tem adotado uma série de ações para mitigar o risco de transmissão do coronavríus em suas operações. A companhia preza pelo diálogo aberto tanto com os representantes do sindicato como com seus colaboradores."
GM também suspendeu
Após ter antecipado a parada da produção, a General Motors (GM) acertou ainda em março com o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí a suspensão do contrato de trabalho dos funcionários. Será por até quatro meses, mas esse prazo não está definido e será reavaliado, explica o presidente do sindicato, Valcir Ascari. A medida atingiu mais de 5 mil trabalhadores.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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