Certamente o megainvestidor mais conhecido do mundo, Warren Buffet é referência para o mercado financeiro, mas costuma ter ensinamentos simples e importantes de finanças pessoais. No final de semana, do alto dos seus 89 anos, ficou por mais de quatro horas respondendo dúvidas de acionistas na convenção anual do Berkshire Hathaway, o conglomerado dono de mais de 90 empresas e acionista de tantas outras, do qual é CEO.
Buffett falou do futuro incerto das companhias aéreas mesmo após a pandemia, sobre a venda de ações nessas empresas, de que não vê problemas específicos para os bancos, disse que não se deve apostar contra a América e tantas outras questões. Mas o bilionário deu um conselho às milhares de pessoas que estavam assistindo ao evento, também chamado de "Woodstock do Capitalismo":
- Meu conselho é que as pessoas evitem usar cartões de crédito como um "piggy bank" (cofrinho) para se atacar. Isso simplesmente não faz sentido. Você não pode passar a vida pedindo dinheiro emprestado a essas taxas e se dar bem.
A orientação é tão básica, mas sempre relevante e ganha importância quando é dita na convenção do Berkshire. Além disso, chega em um momento em que pessoas estão perdendo emprego e renda no mundo todo. Buffett relembra uma discussão com uma amiga que pediu conselhos sobre dinheiro. Na ocasião, ele perguntou quanto ela devia no cartão de crédito e a taxa de juro, que era de 18%.
- Eu não sei como fazer 18% (ter a rentabilidade com investimentos). Se eu devo com juro de 18%, a primeira coisa que eu faço com o dinheiro que tenho é pagar o que devo. Será muito melhor do que qualquer investimento.
Ele ainda lembrou que, na conversa, a amiga perguntou o que a filha dela deveria fazer com os cerca de US$ 2 mil que ela tinha. Buffett disse ter aconselhado que a jovem emprestasse o dinheiro para a mãe por 18%, porque não haveria lugar melhor para ter esse retorno.
Não é a primeira vez que Warren Buffett alerta as pessoas sobre o uso do cartão de crédito, mesmo que ele seja um investidor de operadoras. Mas ele lamenta sempre que já viu muitas pessoas quebrarem com esses empréstimos. Aqui no Brasil, o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial se alternam como os juros mais altos. E, ainda assim, são usados, como Buffet diz, como um "piggy bank", ou seja, um cofrinho atacado com frequência.
O momento econômico provocado pelo coronavírus é complicado e sem precedentes. Mas use o dinheiro com bastante consciência, dando preferência para as contas mais caras, evitando a inadimplência e a bola de neve do juro. Não é bom para o consumidor e nem para o seu fornecedor, que terá de amargar com a falta de pagamento e possivelmente com uma quebra de contrato. Buffett alerta, inclusive, para empresas que estão incentivando o pagamento de aluguel com cartões de crédito e a coluna acrescenta o parcelamento da compra de alimentos como um ponto de atenção. São despesas permanentes e as prestações tendem a se acumular, podendo ultrapassar a capacidade do orçamento familiar. E essa crise tem um elemento bastante complicado na economia, que é a total falta de previsibilidade.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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