Após chamar uma entrevista coletiva sem avisar o assunto e agitar o mercado, a Petrobras divulgou um comunicado ainda difícil de compreender. O texto informa que a estatal adota a partir desta quinta-feira (6) um mecanismo de proteção financeira na política de preços da gasolina.
Chamado de hedge, permitirá que a empresa aumente os intervalos de reajustes nos preços da gasolina nas refinarias em até 15 dias. Desde que a Petrobras mudou a política no ano passado, os ajustes são praticamente diários, o que vinha sendo criticado por postos de combustível, mas apreciado por investidores.
Aliás, para tranquilizar o mercado financeiro, a Petrobras enfatiza que o hedge será exatamente para proteger o resultado financeiro da empresa frente à oscilação dos preços do petróleo no mercado internacional. Diz o comunicado da empresa:
"A companhia entende ser importante conciliar seus interesses empresariais com as demandas de seus clientes e agentes de mercado em geral. Sem abrir mão da paridade dos preços internacionais, o mecanismo de hedge, a ser aplicado por não mais do que 15 dias, permitirá à empresa obter um resultado financeiro equivalente ao que alcança com a prática de reajustes diários."
A Petrobras escolherá os momentos em que aplicará o instrumento. Ou seja, acionar ou não o mecanismo será opcional. Segundo a empresa, dependerá da análise de conjuntura do momento.
- Por enquanto, não está claro o que a Petrobras pretende e como atuará. Ao afirmar que escolherá os momentos em que fará hedges, para preservar seus retornos, em cenários de elevada volatilidade do mercado, ela sinaliza que buscará em instrumentos derivativos uma forma de transferir menos volatilidade nos preços dos combustíveis, quando ou o dólar ou o preço do petróleo no mercado internacional pressionarem os preços no Brasil. Só que o custo de se fazer hedge em momentos de maior turbulência é bem maior do que fazer hedge "sempre", aproveitando momentos de baixa volatilidade - analisa o sócio da gestora de fundos Quantitas, Wagner Salaverry.
A Petrobras define o preço na refinaria. Depois, o combsutível ainda passa pela distribuidora e os postos de combustível antes de chegar ao consumidor. A estatal enfatiza que o preço da refinaria representa cerca de um terço do valor do combustível vendido nas bombas.
"Entram na composição de preços ao consumidor, ainda, o custo do etanol, os tributos e as margens de distribuidoras e revendedores." - diz a Petrobras.
Ainda assim, a oscilação diária dos preços nas refinarias era criticada pelos postos de combustível. O presidente do Sulpetro, que representa as revendas no Rio Grande do Sul, ainda analisa os efeitos do anúncio da Petrobras. João Carlos Dal'Aqua antecipa, no entanto, que ter mais previsibilidade e menos volatilidade nos preços seria bom para o setor.