Demissões, enxugamento de operação, falências e queda nas exportações. São os termos que apareceram nas notícias recentes da coluna Acerto de Contas sobre a indústria calçadista.
A Bottero fechou quatro fábricas e demitiu mais de 600 pessoas. Não conseguiu segurar mais, sofrendo com a retração do mercado doméstico e com a opção de manter as operações no Rio Grande do Sul.
Já a Crysalis foi bem pior. Teve a falência decretada pela Justiça por não cumprimento do plano de recuperação judicial. Tinha mais de 400 funcionários.
O saldo do ano de geração de empregos na indústria calçadista ainda é positivo. Em maio, no entanto, já foram cortados 1,4 mil postos de trabalho e junho, ao que tudo indica, deve vir ruim também.
Os dados da Associação Brasileira da Indústria Calçadista mostram queda tanto no volume quanto no faturamento das exportações de calçados no Rio Grande do Sul no primeiro semestre. Ah, mas o dólar não subiu? Sim, e bastante. Mas o repasse não é automático e nem inteiro. As negociações apertam e parte do ganho com o câmbio fica com os importadores, diz o economista Marcos Lélis, consultor da Abicalçados.
- Câmbio oscilando também é ruim. A empresa perde a noção para formar preço - comenta Lélis.
Outro ponto importante é que apenas 13% da produção brasileira de calçados é para exportação. Esta fatia é dominada por chinelos, produtos com baixo valor o que não turbinam a receita dos embarques. Também é dominado por duas empresas apenas, que são a Grendene e a Alpargatas.
E tem mais. Além do Brasil, outros países também sofreram devalorização da sua moeda em relação ao dólar. Entre eles, a Argentina, que é o principal destino do sapato brasileiro, e a Turquia, que é concorrente.
Depender do mercado doméstico tem sido um problema, porque o consumo está travado. A crise se arrasta e a expectativa de retomada não se confirma. O mercado de trabalho não reage, não gerando renda para as pessoas comprarem calçados. E tem a inflação. Os aumentos dos combustíveis e da conta de luz comem o orçamento das famílias, aperto os gastos.
Lojas com foco na venda apenas de calçados sentiram com força a crise. Quem se safou foram os magazines, onde sapato é apenas um produto de um mix enorme. Os preços são mais baixos e há mecanismos de parcelamento das compras pelo cliente.
Mesmo que a empresa que vende para os brasileiros resolva mudar de rumo e apostar no exterior, isso não é feito de uma hora para a outra. Não começa a se exportar da noite para o dia. É preciso no mínimo um ano para a preparação, na avaliação de Marcos Lélis.
Para finalizar, a quebradeira de empresas não se restringe ao setor calçadista. Os pedidos de falência subiram 470% no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2018. As empresas seguraram até onde conseguiram, mas a greve dos caminhoneiros parece que foi a "cereja do bolo" pelos relatos dos executivos com quem a coluna conversa. Maio massacrou quem já não vinha bem. No caso do setor calçadista, a produção caiu 15,8% na relação com o ano passado.