Ser professora é como ser mãe, é inaugurar uma vida no outro, dando à luz algo sublime. Quem ensina vive em quem aprende e, por isso, o magistério foi visto sempre como sacerdócio. Nada supera o aprendizado das primeiras letras.
Recordo sempre o momento em que (aos seis anos) escrevi minha primeira palavra e o mundo se abriu à minha frente. O sorriso da professora Maria Bezerra se renova em cada ideia que escrevo, mesmo que ela tenha morrido há décadas.
Ao longo dos séculos, todas as culturas, filosofias e religiões fizeram do professor um guia da sociedade, acima da política e dos governos. A escola é o pilar da vida civilizada, sem ela não há amanhã. Por isto, é impossível entender o desprezo com que, entre nós, se trata hoje o magistério, relegado a atividade menor ou desprezível, até.
A atual greve dos professores não busca vantagens ou regalias. Nem sequer reivindica salários, apesar da baixa remuneração. A greve procura, apenas, que não se altere o atual "plano de carreira", como pretende o governador. Por que fazer da carreira de professor um simples biscate?
Para o professor, greve equivale a um sacrifício, pois a grande gratificação é formar cidadãos. Ninguém opta pelo magistério para ganhar dinheiro. O enriquecimento está em abrir portas para o mundo.
Até poucos anos atrás, o Rio Grande do Sul foi exemplo de escola pública ampla e profunda, que partia da valorização do professor, hoje abandonada e inexistente. Numa cópia da nebulosa instalada em Brasília, fala-se até em abandonar a escola e substituí-la pela alfabetização ou educação no próprio lar. Esquecem-se de que educar é, antes de tudo, preparar a criança para a vida em sociedade, conhecendo e agindo com os demais.
Por tudo isto, chamo as professoras em greve de indômitas, pois não se deixam subjugar.
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Escrevo agora de Búzios, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, junto ao mar, à espera de que as manchas de óleo cheguem à praia. Guardadas as proporções e as tragédias diferentes, sinto-me como os prisioneiros dos nazistas em Auschwitz, à espera diária de conhecerem o horror das câmaras de gás. O extermínio é outro, mas é aterrador. Após manchar o mar do norte e nordeste do país, o petróleo chegou ao Espírito Santo e já adentrou 70 quilômetros no Estado do Rio. Em Búzios, entrará pela Praia da Tartaruga, matando a fauna marinha que lhe dá o nome e que resistiu, até mesmo, à depredação do turismo.
Mais do que as águas degradadas, preocupa a desatenção e inércia governamental. Logo após aparecerem as primeiras manchas, levaram 41 dias para acionar o "plano de contingência" para casos semelhantes. Em seguida, o recolhimento do óleo transformado em piche foi caótico e afetou a saúde dos voluntários, que (ao aceitarem o desafio) foram também indômitos, sem medo de se expor.