O Rei Momo instalou-se em Brasília no Ministério da Educação e antecipou o Carnaval.
Sim, pois a decisão do colombiano Ricardo Vélez Rodríguez de mandar que, antes das aulas, as crianças recitem o lema da campanha de Bolsonaro à Presidência e, logo, sejam filmadas cantando o Hino Nacional, só pode ser interpretada como jocosa palhaçada carnavalesca que leva a rir para não chorar.
Se não for assim, se foi feita a sério, deixa de ser piada e o que devia ser folia vira perigosa palhaçada. Não importa que (sob pressão quase unânime da opinião pública) o ministro colombiano tenha desfeito o que fez. Basta que tenha tido a ridícula ousadia de transformar a educação infantil num arremedo do que Hitler e Stalin fizeram na Alemanha e na Rússia _ transformar "o chefe" em símbolo do Estado e da nação. E, agora, filmando e vigiando tudo, para que os alunos sejam precoces aduladores do rei…
Por acaso, a educação vai melhorar com a decisão do colombiano Vélez?
Cantar o hino é belo, mas amar a pátria será apenas isso? Ou o amor surge em educar para uma vida correta e solidária, defendendo nossas riquezas naturais e impedindo que o poder imperial nos roube tudo? O hino é um símbolo, mas só isto. O patriotismo não está na cantoria em si, mas em atos concretos de amor ao que é nosso, amando a natureza que Deus nos concedeu.
Além de tudo, duvido que o ministro colombiano saiba cantar o Hino Nacional brasileiro. Se souber, dou-me até por vencido e aplaudo o Rei Momo que antecipou o Carnaval.
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O Carnaval antecipou-se também aqui. Sem batucada ou cantoria, apareceu a fantasia com que o atual presidente da Assembleia Legislativa, Luis Augusto Lara, elegeu-se deputado pelo PTB.
Junto com o irmão Divaldo, prefeito de Bagé, o deputado e chefe de um dos três poderes do Estado agora é réu "por abuso de poder político, econômico e de autoridade". Um minucioso trabalho da equipe do procurador federal Luís Carlos Weber comprovou dezenas de atos em que o prefeito coagiu funcionários a contribuir para a campanha do irmão. Para que ninguém alegasse "não ter dinheiro", a prefeitura antecipou até o pagamento de metade do 13º salário…
A gravação das conversas telefônicas do prefeito mostra como o poder político foi usado como "um bem de família". Numa cidade que, há anos, sofre com a seca, a prefeitura de Bagé transformou-se na fonte que irrigou a campanha eleitoral do deputado.
E, agora, tudo é terrivelmente carnavalesco…