Enigma é tudo aquilo que – sendo fundamental e importante – não se decifra nem se explica, algo tão obscuro que só entendemos adivinhando. Por exemplo: o silêncio total e absoluto que encobre a bilionária fraude na CEEE, praticada em 1987-88 no governo de Pedro Simon, do PMDB, é um enigma que desafia os três poderes no Estado.
Em valores atuais, a roubalheira chega a R$ 1 bilhão, mas o processo segue em "segredo de Justiça" desde 1996 na 2ª Vara da Fazenda Pública. Jamais foi julgado. Ninguém o leva adiante. Um círculo de aço o condena ao esquecimento e à prescrição, como se o crime fosse virtude.
Em 31 de maio de 2014, sob o título "Na névoa da Justiça", denunciei aqui o absurdo desinteresse em punir os autores de um escândalo maior que o "mensalão" do governo Lula. Várias empresas hoje rés na "Lava-Jato" lideraram o roubo, usando em 1987 métodos copiados décadas depois nas fraudes da Petrobras. Perguntei, então:
- Que segredos esconde essa podridão para que o Ministério Público ou os juízes se calem e os políticos nem sequer simulem indignação?
Hoje, mais de quatro anos depois, tudo segue igual. A podridão estendeu-se como tumor purulento. Ninguém no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário interessou-se pela fraude, nascida em dois milionários contratos de equipamentos e obras jamais executadas em 11 subestações da CEEE, assinados em ato solene no Palácio Piratini em dezembro de 1987. Não houve sequer um demagógico discurso de algum deputado "pedindo providências", numa aparente mostra de obscena conivência com o crime.
Voltei ao assunto várias vezes e este jornal esmiuçou o tema num fim de semana. A Justiça seguiu inerte. No governo e na oposição todos silenciaram, ocultando ainda mais o enigma.
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Agora, o bilionário roubo impune não foi sequer mencionado nos dois primeiros debates (no rádio e TV) entre os sete candidatos a governador. O meio-ambiente, por um lado, e a eletricidade, por outro, são os principais temas do mundo moderno, mas foram desprezados pelos sete.
A CEEE é fundamental ao desenvolvimento, mas só apareceu no "debate" como se fosse um estorvo. O atual governador (aspirante à reeleição) queixou-se por não obter apoio para "privatizá-la" e, assim, poder entregar à cobiça do lucro pelo lucro o que deve dinamizar a economia como um bem de todos.
Quem pode prescindir da eletricidade, hoje? Nosso grande enigma usa lenço, bombacha e botas num misterioso silêncio transformado em crime.