O raio que paralisou todos os serviços do trensurb na manhã chuvosa e gélida da última terça-feira foi muito além dessas descargas elétricas que a natureza vomita com faíscas e trovões. Ali apareceu o Raio-X do caos dominante na administração pública, em que os diferentes setores não se entrosam, num desprezo absoluto ao povo humilde que não pôde viajar da casa ao trabalho por horas a fio.
Três diferentes setores dos governos federal, estadual e de seis municípios se vinculam ao trensurb e ao transporte no eixo que vai da Capital a Novo Hamburgo, zona densa, com aeroporto, refinaria, indústrias e universidades. No entanto, sem interesse na realidade, não fizeram nenhum contato entre si. Os ônibus (que em emergências deviam suprir deficiências) trafegaram na chuva como em dia de sol. E as cenas nas estações alternavam dor, angústia e ira.
Indago: não basta o desatento serviço do dia a dia, prestado por trens comprados erroneamente, lentos e de má qualidade, parte deles sempre "em conserto", trafegando de 20 em 20 minutos? Não basta o roubo ao estender a linha a Novo Hamburgo, orçada em R$ 690 milhões e que chegou a mais de 1,6 bilhão?
Ou nos esquecemos de que a Odebrecht revelou ter pago ao atual ministro Eliseu Padilha a propina de 1% sobre o valor da obra, mais 0,5 % ao deputado Marco Maia, além de "migalhas" ao deputado Onyx Lorenzoni e aos diretores do Trensburb, Humberto Kasper e Marco Prates Cunha?
Três partidos que se dizem divergentes — MDB, PT e DEM — uniram-se para que o então ministro petista Paulo Bernardo incluísse a obra no PAC, com o que acelerou o próprio crescimento levando 1% de propina sobre o valor da obra…
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Já que a ânsia de suborno é usual, hoje me indigna o desdém absoluto com que o poder público trata o povo humilde, até nas coisas básicas. Jamais o governador, o prefeito da Capital e dos demais municípios se reuniram com o ministro federal para estabelecer um plano de ação conjunta numa área que tem tudo em comum. Cada um age desconhecendo o outro, ou se opondo, como em guerra.
Agora, os burocratas nomeados pela partidocracia culparam pela paralisação a faísca da descarga, sem jamais pensar em para-raios ao longo da linha. Dirigida por politicoides, esses humanoides interessados apena$ nele$ próprio$, a administração pública tende a virar um poço seco, condenando o povo ao abandono, à alienação e à estupidez. E aí, nem um Raio-X profundo mostrará onde pisamos.