É difícil alguém lembrar o primeiro livro que leu na vida. O que tenho claro para mim é o primeiro que amei. Foi O Menino Maluquinho, que completa 40 anos de publicação em 2020.
É uma obra deliciosa do Ziraldo para crianças, com desenhos em preto e branco que tratei, na infância, de colorir um por um com giz de cera. Aproveitei e pintei também o corte das folhas com uma cor dourada para dar um aspecto solene de Bíblia. Livro sagrado para mim, mas não religioso, O Menino Maluquinho evita lição de moral, mas traz uma mensagem bonita, que não vale a pena revelar aqui para não estragar a surpresa. Se há algo que lamento é não saber que fim teve o exemplar que frequentei com tanta alegria.
Os anos de formação tiveram outros títulos marcantes, como A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga; Marcelo, Marmelo, Martelo, de Ruth Rocha; e, mais tarde, os poemas de É Isso Ali, de José Paulo Paes, de que não gostei muito na época mas passei a admirar tempos depois. Já no Ensino Médio, a paixão pela leitura mesmo, aquela que nos acompanha na vida adulta, foi despertada com O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. O que parecia ser apenas mais uma leitura obrigatória do colégio se tornou uma descoberta.
O amor pelos livros vai além da melhor parte, que é o conteúdo, e se estende ao livro como objeto. É interessante notar como o volume de papel é uma das poucas mídias físicas que sobrevivem à avalanche das plataformas digitais.
O DVD está indo embora, o CD também, mas o livro impresso segue coexistindo com os e-books. E não porque haja qualquer mania de passado, mas porque ainda é um formato que funciona para as pessoas.
Como um arqueólogo, o amante dos livros gosta de pesquisar o histórico das edições. Às vezes, guarda em casa mais de um exemplar do mesmo título, pois uma versão pode conter um valioso posfácio que não está presente em outra. Também é desafiadora a missão de escolher qual tradução de autor de língua estrangeira ler primeiro – uma mais recente ou aquela mais clássica? No manuseio, há que seja mais cuidadoso com o volume e quem prefira fazer anotações nas bordas. Não há regras, todas essas escolhas fazem parte do prazer da leitura.