A morte de um ator é sempre uma tragédia, mas a morte de um ator jovem é revoltante porque ficamos imaginando os trabalhos incríveis que ainda seriam feitos. O artista se agiganta com a maturidade.
Leonardo Machado estava empolgado no dia 10 de abril de 2017, quando o encontrei na Usina do Gasômetro para assistir ao ensaio da peça Fala do Silêncio. Era sua primeira estreia teatral desde A Megera Domada (2008), ambas na Cia. Rústica, da diretora Patrícia Fagundes, amiga e conselheira. Durante nove anos, Léo havia se dedicado primariamente ao cinema. Mas grandes atores sempre voltam aos palcos. Pense em Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Antonio Fagundes, Tonia Carreiro, e a lista segue. Leonardo Machado era esse tipo de artista.
Naquela entrevista, concedida ao lado de Patrícia, Léo disse que desejava “estar em processo”: “A coisa mais importante para um ator no teatro é se apresentar, pois o espetáculo só nasce quando tem público. Mas a questão é estar nesse movimento criativo, e o cinema não propicia muito isso. Criar novas ferramentas, descobrir coisas”.
Livremente construído a partir da peça Traição, de Harold Pinter, Fala do Silêncio era um espetáculo memorável que combinava teatro com música ao vivo. Além de atuar, Léo cantava e tocava na guitarra a trilha que ele havia criado com o grupo. A montagem tinha os ótimos atores Lisandro Bellotto (depois substituído por Evandro Soldatelli) e Priscilla Colombi, todos atuando e tocando.
Durante a ação, eram projetadas cenas dos acontecimentos políticos dos últimos anos, como se fosse um chamado para que se rompesse a insuportável polarização – que, hoje sabemos, apenas se intensificou. Mas naquele momento ainda havia certa esperança, o que ficou claro quando Léo falou, naquela conversa no Gasômetro, sobre expor nossos “temores, medos e inseguranças”: “Independentemente do posicionamento partidário ou da ideologia, está todo mundo se questionando, inclusive a gente. Não tenho resposta alguma. Não sei o que é certo e o que é errado, o que vai ser e o que não vai ser. Mas essas questões estão entranhadas dentro da gente o tempo inteiro”.
O teatro é breve como a vida. Shakespeare já dizia que “O mundo é um grande palco/ E os homens e as mulheres são atores”. Leonardo Machado, um devoto do teatro e de Shakespeare, nos ensinou a amar ainda mais essa arte.