Confesso: às vezes me pego pensando sozinho em argumentos para demonstrar a um descrente imaginário a importância da cultura e do financiamento à cultura – incluídos aí tanto o financiamento público quanto o privado.
É uma situação jamais imaginada tempos atrás, essa de dizer o óbvio, mas com a qual temos nos deparado ultimamente (claro que não estou usando a palavra “descrente” no sentido religioso; refiro-me à pessoa que não acredita na importância da cultura).
Por onde começar a conversa? "Você gostaria que seu filho ou sua filha conhecesse as obras Shakespeare e Machado de Assis?" Então, você defende a cultura.
Expandindo um pouco a ideia de cultura para englobar o conhecimento em geral: "Gostaria que seu filho ou sua filha lesse livros de economia, história, filosofia, ciência política, enfim, tivesse pelo menos uma vaga noção do mundo em que vivemos?"
Sei lá se funcionaria. Porque as coisas estão muito loucas mesmo. Hoje, qualquer um pode vociferar até mesmo contra o conhecimento mais básico da ciência e defender que a Terra é plana, que vacina faz mal, que a mudança climática não existe. Em meio a esse balaio de absurdos, torna-se normal enxovalhar a cultura. E o financiamento público a projetos artísticos, que representa uma parcela mínima de qualquer orçamento, vira objeto de horror.
Esquece-se, portanto, que a cultura movimenta a economia, e que os incentivos a essa área retornam à sociedade na forma de empregos e no fortalecimento de uma cadeia produtiva. Além, claro, do principal: a própria divulgação da cultura, uma das maneiras pelas quais nos reconhecemos como humanos.
O problema começa, a meu ver, quando os defensores da cultura se cansam de sua missão, o que é bastante compreensível tendo em vista as batalhas que têm sido travadas. Na pobreza do debate atual, ganha quem instigar medo em um inimigo imaginário. Mas a cultura não. Ela abastece o pensamento, a sensibilidade, a imaginação.