Essa semana, fui entrevistado pela ONU. Há um departamento de mídia e produção de conteúdo na Organização das Nações Unidas e uma turma de lá acabou tomando contato com o canal Buenas Ideias, que mantenho no YouTube (e tem legendas em inglês). A entrevista ainda não foi ao ar, mas rolou bem. Dois temas eram os que mais interessavam a repórter que falou comigo por Zoom: os 200 anos da Independência do Brasil, que se completam em 2022, e a presença fulgurante de Oswaldo Aranha como presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas em 1947, justamente na sessão em que foi criado o estado de Israel. Mas é claro que, como boa jornalista, a entrevistadora não pode evitar de se referir ao atual presidente do Brasil – lá considerado um “líder senil”, e isso antes de sua vexatória passagem pela mesma tribuna na qual, como de praxe, coube ao Brasil a honra de abrir a Assembleia Geral.
Não se sabe ao certo – ou pelo menos o todo-poderoso Google não soube me informar direito – porque desde 1955 o Brasil desfruta dessa excelsa primazia. Mas tudo indica que ela de fato se deve ao brilhantismo de Oswaldo Aranha. Eis, portanto, uma boa ocasião para lembrar o que jamais deve ser esquecido: que Aranha foi o maior dos responsáveis pelo fato de o Brasil ter-se aliado aos Estados Unidos (e, portanto, à Inglaterra e à Franca) na Segunda Guerra Mundial pois até 1940, duas figuras sombrias, os generais Goes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, continuavam favoráveis ao alinhamento do Brasil com a Alemanha nazista.
Por isso, e por mais ainda, me parece inacreditável que esse alegretense não seja eterna e unanimemente considerado o maior gaúcho de todos os tempos. Ou tu vais querer vir para cima de mim com Getúlio Vargas (que, como Goes e Dutra, também flertou com Hitler) ou com algum jogador de bola com vocação para foca amestrada? Ainda assim, apesar das evidências de seu talento e valor, na minha inexoravelmente correta e sempre modesta opinião, fala-se pouco sobre Oswaldo Aranha. Assim, após ter discorrido sobre D. Pedro I – ressaltando que, ao se tornar independente, o Brasil, ao contrário das ex-colônias espanholas, não aboliu a escravidão –, fiquei exultante em tecer para representantes da ONU uma teia de elogios ao bom Aranha.
Por isso, foi repartido entre a vergonha e a náusea que assisti o atual presidente do Brasil fazer um discurso mentiroso e negacionista na mesma tribuna que já foi ocupada por um luminar como Oswaldo Aranha, e na qual se portou como se estivesse falando para os amestrados do seu cercadinho, ou para a turma que se aglomera no Parcão. Mas felizmente ainda nos resta a Redenção, aliás de frente para a Oswaldo Aranha. O que me fez lembrar que nem todos podem chegar ao Bom Fim – restando para alguns apenas a lata de lixo da história.