A primeira bandeira do Brasil tremulou poucos dias após o grito do Ipiranga. Foi obra de Jean Baptiste Debret – que já tinha a pena na mão e uma ideia na cabeça. Tomando por base estandartes franceses, ele usou um fundo verde – a cor da dinastia de Bragança – e nele aplicou um losango amarelo, o dourado dos Habsburgos, a casa real da imperatriz Leopoldina. No centro do losango, pôs um escudo com a cruz da Ordem de Cristo, 19 estrelas e a esfera armilar, ladeados por um ramo de café e outro de tabaco – as drogas que faziam a fama e a fortuna do Brasil.
Tal pavilhão manteve-se no alto dos mastros até o golpe militar de 15 de novembro de 1889. Já ao raiar do dia seguinte, Lopes Trovão – o tempestuoso republicano –, apresentou sua nova versão. Era igual a bandeira dos EUA, stars and stripes: listras verdes e amarelas na horizontal e um quadro negro com estrelas no canto. Negro, em louvor aos africanos cujo suor e sangue tinham construído o país. Ruy Barbosa mandou pintar o retângulo de azul. E apresentou ao velho monarquista Deodoro, que odiou tudo. “Senhores, mudamos o regime, não a Pátria”, disse ele. E assim, com o lábaro que ostenta estrelado, surgiu a bandeira que você conhece – que alguns de nós juramos e que tem gente que agora sequestrou.
Sim, é fato: um bando – cada vez menor, mas cada vez mais fora de si – tomou de assalto a bandeira brasileira desde a campanha que acabou elegendo o mais despreparado presidente brasileiro de todos os tempos. (e minha opinião vale mais, pois além de experiente doutrinador, estudei a trajetória de todos os que já comandaram o país desde o golpe que tirou os ramos de café e de tabaco da bandeira). Aliás, não sei como esse povo ainda não pensou em acrescentar um ramo de soja transgênica e uma carreira de pó branco (de avião da FAB) ao pavilhão. Pois já o levou para desfilar nas marchas mais vis das quais a bandeira tomou parte.
Domingo passado, eles se reuniram no Parcão, em torno da figura lastimável de Roberto Jefferson, para defender o direito de contaminar, o direito de aglomerar-se em tempos evangélicos e o “voto no papel”. Passei por ali e vi duas criaturas caquéticas e patéticas com um cartaz que dizia: “Não é pandemia, é comunismo”. Aí, desisti. Deles. Da bandeira. Quiçá do país. E com certeza do Parcão. Acho até que deveriam dar o Parcão para eles – desde que não saiam mais dali.
Só que a dona Laura Mostardeiro, o republicano Quintino Bocaiúva e a turma que fez a revolução de 30 no dia 24 de outubro (e talvez até o tal Comendador Caminha) não vão gostar nada disso. Mas como são eles que batizam as ruas ao redor do parque, talvez de fato os mantenham presos ali, onde grama não falta. Já a gente fica de boa na Redenção, que, aliás, é maior, mais democrática e mais bonita. Fui.