Sou americanófilo – desde sempre. Minha trajetória como escritor, tradutor e editor (escrevi 34 livros, traduzi 22 e editei cerca de 300) é profusamente marcada pelas vidas e obras de Bob Dylan, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Walt Whitman, Henry Thoreau, Emerson, Melville. E, justamente por cultuar a sólida e solene tradição libertária dos filósofos transcendentalistas da Costa Leste – e a dos escritores, trovadores e poetas que os seguiram –, sempre fui contra o intervencionismo dos EUA ao redor do globo.
Mas nesta semana, ao ler os editoriais dos jornais The New York Times e The Washington Post – cujas histórias conheço bem –, revi meus conceitos. Tornei-me francamente favorável à intervenção norte-americana, pelo menos no Brasil. E pode ser militar. E pode ser para já. Não sei se você leu os ditos editoriais. Eles seguem a mesma linha do britânico The Guardian: depois de choverem no molhado ressaltando que Bolsonaro é uma criatura desprezível, batem na tecla que importa – esse sujeito se tornou uma ameaça mundial. E assim, ecoando a fala de Pam Keith, uma militar da Flórida ligada ao Partido Democrata, os dois jornais mais influentes do mundo insinuam, sugerem, quase recomendam uma... intervenção dos EUA no Brasil. Eu concordo. E para já.
Sei que posso contar com o apoio das classes médias e altas do Brasil: afinal, elas sempre tramaram contra a democracia nacional e apoiaram a conspiração urdida pela CIA, que desestabilizou e ajudou a derrubar o governo constitucional de João Goulart, instaurando a ditadura militar em 1964. Por que não o fariam de novo, sendo que desta vez o perigo é bem mais concreto do que a suposta “ameaça comunista” que Jango e Brizola representariam?
E, assim, fiquei dando tratos à bola sobre como seria a bem-vinda invasão. De início, pensei no Rin Tin Tin e na cavalaria – clarins soando para calar as trombetas do Apocalipse. Mas não. Afinal, Custer foi morto por Cavalo Doido. Então, conjecturei desembarque por mar: a Bahia no papel da Normandia. Mas isso funcionou melhor no cinema, pois na real quem ganhou a Segunda Guerra foram os russos. Aí, imaginei helicópteros voando ao raiar do sol, lançando napalm no Guarujá ao som da Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Mas, poxa, como esquecer que os EUA perderam no Vietnã?
Surgiu-me então a solução, e utilizo as prestigiosas páginas digitais de GZH para anunciá-la e assim aliviar o mundo: que venham os Vingadores! Já antevejo o Capitão América a esbofetear o Recruta Zero, Hulk pulverizando os inimigos do verde, Thor com o martelo para esmagar os picaretas, enquanto o Batman, sempre solitário, encarcera o vilão no asilo Arkham e joga a chave fora. Acabo, portanto, de ligar o bat-sinal. Ele diz: "Intervenção dos EUA já". E pode ser militar. A classe média apoia. Yankees, come home!