Por mais árduos e eventualmente tediosos que possam ser os livros de história econômica; por mais que a dita “história da vida privada” tenha adicionado mais cor e mais sabor à historiografia; por mais que jornalistas enxeridos tenham vindo meter o bedelho querendo deixar o assunto mais pop, o fato é que – virou, mexeu –, se você estudar a coisa a fundo, descobrirá o óbvio: o que move a roda da História é o dinheiro. Grana, money, tutu, plata, bufunfa, dindim. Sempre foi, continua sendo e por um bom tempo assim será. Claro que o poder importa. Mas – virou, mexeu –, de onde vem o poder? Pois é.
Assim, se você quiser saber como de fato foi e o que estava por trás da Independência do Brasil – que completa 198 anos neste feriadão da covid –, faça como os bons investigadores: follow the money... Vai acabar concluindo que a data-chave não foi a de um grito no meio do nada, em 7 de setembro de 1822; nem a de uma gritaria de dor e júbilo após ferozes batalhas na Bahia, em 2 de julho de 1823 e talvez nem 12 de outubro, quando o príncipe D. Pedro se tornou “imperador e defensor perpétuo do Brasil por vontade de Deus e dos povos”. A data-chave foi 29 de agosto de 1826, quando Portugal enfim reconheceu a “separação” do Brasil e, com a mediação da Inglaterra, assinou o Tratado de Paz, Amizade e Aliança. Tratado que custou os olhos da cara.
Começando que, para ajustar as pontas e acertar as contas, entre pai (D. João VI) e filho (D. Pedro I), a Inglaterra cobrou. Caro. Dizem as más línguas que os conselhos saíram por cem mil libras – e a conta ficou por conta do Brasil. E contam ainda que teve gente que aumentou um ponto. Entre eles, o senhor de escravos e principal artífice do tratado por parte do Brasil, Felisberto Caldeira Brandt, que também teve que gastar muita lábia para que a Inglaterra reconhecesse a independência sem obrigar o Brasil a abolir a escravidão. Ele conseguiu. Para Portugal, o Brasil pagou mais de 2 milhões de libras – e a melhor parte: precisou assumir a dívida que Portugal tinha com... a Inglaterra. Assim, anote aí e não perca as contas: a Independência virou negócio fechado quando Caldeira Brandt fez um empréstimo de 3.686.200 libras junto aos bancos Barings e Rothschild, com juros de 5% ao ano. E quer saber a real? Em reais, patacas ou caraminguás, a dívida era impagável. Foi o preço da Independência.
Como você há de ter lido na minha, na sua, na nossa ZH, estou lançando Dicionário da Independência – 200 anos em 200 verbetes, já em pré-venda (com direito a brindes) no site da editora Piu. Corra lá, para não ficar mais em dúvida, mesmo que fique em dívida no banco. Isso pode ser sinal de independência.