Tudo o que começa tem fim. Portanto, é lógico que o ano que começou há 361 dias esteja agora chegando ao fim. E que, daqui a cinco dias, outro ano comece. Até aí, tudo bem. Mas por que raios isso teria que acontecer justo na virada de 31 de dezembro para 1º de janeiro? Quem decidiu que o ano deveria começar em janeiro? Ora, os políticos e a Igreja, é claro – e o povo que engolisse suas antigas crenças. Mas a data até que demorou para colar, sabe? E não se passaram nem 500 anos desde que o 1º de janeiro virou o dia do Ano-Novo.
E é natural que por mais de mil anos tenha reinado a discórdia antes de o dia da virada firmar pé. Pois, no fim – e no início – das contas, o ano novo terrestre sempre foi no equinócio de 21 de março, quando a Terra completa uma volta inteira em torno do Sol. E era nesse dia que os povos antigos – conectados às estações e à agricultura – celebravam o advento do novo ciclo: babilônios, assírios, egípcios, maias. E até os romanos, que depois bagunçaram o coreto.
Roma, de início, até que agiu, digamos, de "boa-fé". Os romanos adotavam o ancestral calendário de 10 meses, com o ano se iniciando, é claro, em março (e é por isso que setembro, outubro, novembro e dezembro se chamam assim, pois eram os sétimo, oitavo, nono e décimo meses do ano). Mas esse era um ciclo lunar que, em 713 a.C., o rei de Roma, Numa Pompílio, fez virar luni-solar, com 12 meses, criando "januário" e "februário", que, aliás, encerravam (e não iniciavam) o calendário. Até porque o Ano-Novo seguiu sendo em março.
Mas em 153 a.C., devido a uma guerra (a tal "segunda guerra celtibera", contra os hispânicos), a data de posse dos cônsules – nomeados pelo Senado em março, justo para coincidir com o Ano-Novo – precisou ser antecipada para janeiro. Era para ser provisório, mas foi ficando, ficando. Aí, em 45 a.C., quando Júlio César estabeleceu o calendário – adivinhe! – juliano, o Ano-Novo passou a ser em janeiro, por causa da posse dos senadores. Mas a moda não colou e o povo continuou, é claro, se embebedando no réveillon... Em março.
Só em 1582, quando o papa Gregório XIII criou o calendário – adivinhou! – gregoriano, é que 1º de janeiro (associado ao dia da suposta circuncisão de Cristo) tornou-se de vez o Dia Um, desvinculando de vez a cristandade do ciclo cósmico que fazia o início do ano coincidir com o equinócio de março.
Mas quer saber? Essa conversa me deixou tonto e com sede. Não vou esperar até março para erguer um brinde. Feliz ano velho!