Sexta-feira passada, nas páginas de ZH, um certo capitão, ops, um certo tenente-coronel Zucco – o mesmo que recentemente apoiou a medida do já defenestrado ministro da Educação, propondo que os alunos da rede pública cantassem todos os dias o hino nacional e escreveu que os 20 anos de regime militar foram "marcados pelo respeito aos direitos humanos" –, pois, em artigo publicado em ZH, o dito militar, que também é deputado estadual, teceu loas e boas ao exército nacional.
Dadas as declarações anteriores, jamais imaginei que vislumbraria sumo e suco nas palavras de Zucco. Devo confessar, porém – e sem necessidade de tortura (como aquela imposta durante os anos em que vivemos sob "uma democracia forte") – que, dessa vez, concordei com quase tudo o que o nobre deputado militar escreveu. Como estudioso da história do Brasil, bem sei o quanto o pais deve às Forças Armadas – em especial quando elas se atêm ao seu papel institucional e se mantêm em seu lugar: a caserna.
Assim, estava eu feliz com a concórdia – afinal, longe de mim a "cizânia", como disse ZH em editorial – quando, já no sábado, minha paz pascoal foi rompida por um vídeo postado pelo presidente da República (por meio de um de seus filhos, o 02). No dito filme, o guru-brucutu do presidente diz que as escolas militares não produziram nada "além de cabelo pintado e voz empostada". E que "nos últimos 35 anos os milicos" só deram "cagada" e entregaram "o país aos comunistas". Ou seja, o guru do presidente não gosta dos militares. Abalei-me. Estará havendo alguma dissidência interna? Talvez não, pois (embora o tenha postado) o presidente apagou o vídeo. E criticou seu guru – sem deixar, é claro, de elogiá-lo.
Mas quero dizer que estou do lado daqueles que defendem o exército e sua "unicidade". E mais: acho que raras vezes o Brasil precisou tanto das Forças Armadas como agora, e para uma tarefa que urge e se impõe: investigar, combater e erradicar as milícias. De fato, nada pode conspurcar mais a imagem de nosso exército do que a existência desses grupos que, não por acaso, são chamados de "paramilitares", e cujos integrantes, em boa parte, são egressos do próprio exército ou da PM.
Julgo, no entanto, que tal tarefa deve passar ao largo de gente que, mesmo ligada ao exército, fala (ou deixa falar) mal dele. E mais: longe de quem apoia, elogia, condecora, premia, emprega (e eventualmente habita no mesmo condomínio e tem parentes que namoram) milicianos. Como creio que não é esse o caso do tenente-coronel Zucco, folgaria se ele e outros do seu naipe assumissem tal investigação. E logo.
As milícias precisam ser investigadas e erradicadas. Aqueles que as apoiam, premiam e empregam também. Mais cedo ou mais tarde, serão. Bem como também será o suculento caso dos laranjas do PSL, partido que o supracitado Zucco lidera no Sul. Mas essa outra investigação, creio eu, não deveria ficar a cargo dele.