Se alguém é capaz de afirmar, mesmo que de forma "casual" e trôpega – a ponto de errar a nomenclatura e atropelar a gramática –, que o "nazismo é de esquerda", tal pessoa só pode ser enquadrada em duas categorias: 1) ou se trata de um completo desinformado disposto a seguir chafurdando no oceano da própria ignorância, ou 2) é um manipulador, charlatão e embusteiro, pronto para falsear a verdade e conspurcar a História – além de vilipendiar a memória dos milhões de mortos pelo mais vil regime que já sujou a face da Terra.
Se tal declaração partir do mandatário de uma nação que já teve (e ainda deveria ter) relevância no cenário global, e tiver sido pronunciada à porta do memorial erguido para manter viva a lembrança daquele crime contra a humanidade, o quadro se agrava, pois o dito cidadão não se exime de ser enquadrado em uma das classificações acima.
Ou, o que é pior, numa perturbadora mescla de ambas.
Se o que agora afirmo, com limpidez, vigor e transcendência, extrapolar os limites desta coluna, e por ventura vier a me conduzir à barra dos tribunais, gostaria de dizer que não me importo em ser julgado. Sugiro, porém, que meu julgamento se dê em Nuremberg, onde mais de 20 facínoras de extrema direita, responsáveis pelo massacre de milhões de inocentes, foram condenados – a maior parte deles, à morte. Ou que eu seja levado para Jerusalém, onde a figura mesquinha (e ainda assim sinistra) do nazista Adolf Eichmann surgiu para, conforme a análise devastadoramente brilhante da filósofa Hannah Arendt, desvendar a "banalidade do mal". Ou que seja eu julgado em Haia, onde se debatem os crimes contra a humanidade. Ou julgado pelo STF em Brasília – e convoco Gilmar Mendes para compor a mesa. Ou julgado na República de Curitiba – e não me importo que o atual ministro da Justiça retorne à sua velha comarca. Pelo contrário, gostaria de convidá-lo. Conclamo, conjuro e aclamo os arautos do conhecimento, da dignidade, da decência. Evoco os maiores pensadores vivos de todos os quadrantes. Sei que estarão todos comigo.
O nazismo e os nazistas foram e sempre serão da direita. O líder "supremo" do nazismo, cujo nome não será dito, podia compartilhar os mesmos sintomas de psicopatia social com os monstros do comunismo, como Stalin e Mao-tsé Tung – mas sempre os odiou e combateu. Os nazistas sempre mentem e tentam reescrever a história – de novo, igual aos comunistas. Os nazistas apoiam a tortura e louvam torturadores. Os nazistas amam as armas – e às vezes as colocam, real ou simbolicamente, em mãos de crianças. Os nazistas odeiam as artes e as letras que não concordam com eles. Os nazistas, feito as víboras, estão sempre prenhes. Por tudo isso, o nazismo, da mais repugnante extrema direita, foi jogado na lata de lixo da História mais fundo e permanentemente do que qualquer outro regime.
E de lá não sairá. Pois o ovo da serpente jamais será chocado outra vez.