Tenho inúmeras qualidades. São tantas e tamanhas, que nem uma ínfima porção delas poderia ser listada neste estreito espaço. De todo modo, dentre meus muitos predicados, um deles se destaca e pontifica. Trata-se, é claro, e você já suspeita, da modéstia. Tem até gente que diz que minha modéstia é a maior do mundo. Aí, já não sei. Mas que ela, com certeza, é maior do que a deles – e do que a sua –, ah, isso eu asseguro. Só que a coisa não para por aí: minha modéstia não apenas é enorme, como é muito bonita também. Ela refulge, como se cravejada de brilhantes. Dá para ver de longe.
É do alto dessa humildade franciscana que venho a público admitir que, entre tantos méritos, atributos, virtudes, talentos e aptidões, falta-me – acredite se quiser – o poder de síntese. Não consigo ser conciso, sucinto, breve, sintético e direto. Há ocasiões em que emprego várias palavras quando uma única talvez desse conta do recado.
Isso posto, declaro, afirmo, assevero e revelo: odeio o Twitter.
Na verdade, todas as redes sociais me repugnam: acho que elas deram voz a uma legião de gente que, na minha sempre ponderada e invariavelmente correta opinião, deveria ter permanecido muda pela eternidade e mais um dia. Ocorre que entre todas essas diabólicas plataformas, o Twitter me ofende mais que as demais. Duzentos e oitenta caracteres? Pelo amor da santa: isso é ejaculação precoce verbal! Só um mestre japonês do haicai, como Bashô (1644-1694), seria capaz de filosofar em 280 caracteres. Em 280 caracteres, o máximo que se consegue é piar, chilrear, trinar, gorjear ou, vá lá, pipilar.
Mas é justamente isso que “tweet” quer dizer? Um pio? Ah, entendi. Mas se é assim por que tanta gente canta de galo no tal Twitter? Particularmente, prefiro a piada do pinto.
Bom, mas daí você se põe no lugar e começa a pensar pela ótica de mandatários que não devem ter lido mais de três livros na vida, que possivelmente seriam reprovados na prova de redação do Enem, que mal sabem escrever o próprio nome, e que mesmo assim foram eleitos. E daí conclui: o Twitter foi feito para eles! Nada mais natural para esses neopresidentes do que governarem aos pios. Até porque não estou certo de que aqueles que os elegeram tenham capacidade de ler muito mais do que uma dúzia de palavras.
Assim, preciso dizer que se for para receber uma piada (no caso, o som emitido por um animal alado – um “tweet”), e ainda por cima fazendo as vezes de “mensagem”, confesso que prefiro que ela venha por meio das corujas do Harry Potter. Ou até pelos negros corvos de Guerra dos Tronos, embora estes em geral sejam portadores de más notícias sobre mudanças climáticas. Ou então, quem sabe, o estafeta possa ser o pombo-correio Armando, que no início desta semana foi adquirido por 1,25 milhão de euros por um chinês anônimo, num leilão na Bélgica.
Dizem, aliás, que Armando escreve muito bem. Só não sei se, como eu, ele ainda por cima é modesto.